Devoção Mariana

25 DE MARÇO – FESTA DA ANUNCIAÇÃO DO SENHOR

25 DE MARÇO – FESTA DA ANUNCIAÇÃO DO SENHOR*

Anunciação (Foto: Sassoferrato)

O MISTÉRIO DE NAZARÉ

O Evangelho do dia narra o glorioso acontecimento da vinda de um anjo à terra em nome de Deus. para comunicar à humilde Virgem de Nazaré, que o Altíssimo a havia escolhido para ser a Mãe de seu Filho. A narração é divinamente enternecedora. Basta percorrê-la, meditá-la, para penetrar, senão compreender o mais sublime mistério do amor de Deus para com os homens: a Encarnação.

Meditemos, um instante, o desenrolar desta cena. examinando:

I – A mensagem do Arcanjo.

II – O consentimento da Virgem.

I – A MENSAGEM DO ARCANJO

Era no dia 25 de março, provavelmente, ao raiar da aurora.

Em Nazaré, numa humilde ermida, no fundo de pequena cela, estava de joelhos uma Virgem implorando ao Altíssimo que mandasse ao mundo o Salvador prometido.

Era jovem, bela, com todas as graças dos 15 anos, com todo o amor de seu coração virgem, com todos os atrativos à sua imensurável santidade.

Orava, suplicava, as mãos docemente justapostas sobre o peito e olhar como penetrando ·a imensidade do firmamento.

O olhar de Deus estava fixo sobre esta pureza suplicante, e a prece, que brotava desta alma cheia de graças, comovia o seu coração de pai da humanidade.

Era chegada a hora da libertação.

Gabriel, um dos arcanjos gloriosos, deixava o céu e baixava à terra, vinha transmitir a mensagem, que o Altíssimo lhe havia comunicado.

Ele desce sigamo-lo.

Ele vai à Galiléia em direção de uma aldeia esquecida, chamada Nazaré, para a pequenina ermida, onde ora e suplica uma jovem de 15 anos, desconhecida do mundo, admirada pelos anjos.

A virgem era desposada, porém, conforme o costume judaico, não coabitava ainda com o esposo, o carpinteiro José. O arcanjo luminoso, sob forma humana, o semblante resplandecente, usava uma veste dourada como a aurora, que despontava ao longe. Numa atitude solene, como convinha ao embaixador do Altíssimo, apresenta-se diante da Virgem em oração.

Ele fica em pé, inclina-se levemente, e, doces, como as pétalas perfumadas das rosas matinais, caem de seus lábios estas palavras estranhas:

Ave, (Maria,) cheia de graça, o Senhor é contigo, bendita és tu, entre as mulheres.

A virgem levanta a cabeça, perturbada ao ouvir esta estranha saudação; não se perturba com a presença do anjo, porém, com tal saudação dirigida por um anjo a uma criatura mortal.

Há uma espécie de luta interior entre o espírito do anjo e o espírito da Virgem silenciosa, cheia de graça e de luz. O anjo, como enviado de Deus, quer elevar a virgem, para fazê-la entrar no caminho mais sublime, que pode existir; e a virgem recolhe-se em sua humildade, esconde-se em seu nada. Ela sabe que é um anjo quem fala, e que sua palavra é a expressão da verdade, mas não pode aceitar esta palavra, pois exprime para ela louvor e grandeza.

A virgem fica silenciosa, pensa, e escuta.

* * *

É a segunda fase desta cena divina.

O luminoso arcanjo, pelas primeiras palavras, concentrou a atenção da virgem sobre a grande revelação, que ia transmitir-lhe.

Então, clara como luz do sol, que banha as culminâncias das montanhas, o arcanjo deixa ouvir a grande mensagem, que vem trazer ao mundo.

Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus; eis que conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus.

Maria, a virgem doravante gloriosa, cujo nome ecoará através do mundo, como um símbolo de paz e de ternura, não se perturba mais: compreende tudo. Passando acima dos sublimes destinos, que o anjo acaba de revelar-lhe e que não a deslumbram, ela se lembra de seu grande tesouro: a conservação da sua virgindade, que havia consagrado ao Senhor.

O anjo lhe anunciou que seria mãe, porém, ela havia jurado a Deus conservar a sua virgindade; eis porque humilde pergunta brota de seus lábios virginais: como se fará isto, pois eu não conheço varão? Ela não duvida da onipotência divina, e sabe que Deus. pode conciliar estes dois extremos; mas como se fará isto?

É o terceiro triunfo da virgindade!

O primeiro foi no templo, quando ela fez o voto de virgindade. O segundo na ocasião da sua união virginal com José. O terceiro é o heroísmo de preferir a virgindade à própria honra de ser mãe de Deus Esta simples frase: Como se fará isto, pois eu não conheço varão? É como o Evangelho da virgindade. O anjo anuncia à terra a Encarnação do Filho de Deus; Maria anuncia ao céu a virgindade da futura mãe.

Oh! terra! Ufana-te de tua filha!

Se Deus desce, é sob a condição de passar debaixo do arco de triunfo da virgindade.

Legião de virgens, preparai-vos, levantai-vos … Maria desfraldou o estandarte, que vai conduzir-vos ao triunfo!

II – O CONSENTIMENTO DA VIRGEM

O anjo vai responder à pergunta de Maria.

Ela perguntou pelo caminho escolhido por Deus, para executar a sua obra.

O Arcanjo inclina-se mais profundamente, e, fitando a sua futura Rainha, com suprema veneração, explica: O Espírito Santo virá sobre ti, e a Virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra, e por isso o Santo que há de nascer de ti, será chamado Filho de Deus.

O mistério está desvendado: Maria será Mãe e ficará Virgem!

Santo será o teu fruto. Ó Virgem Mãe!

Ainda aquela Mão Onipotente, que tirou de um seio estéril o Precursor João Batista, tirará de um seio puro e virginal, o Messias, teu Filho.

Jesus será o teu fruto.

Tu ó Mãe, serás a sua flor!

O Arcanjo calou-se.

Deus dá a Maria o direito de deliberar.

Envia-lhe um anjo, não somente para revelar-lhe a grande obra, que o seu amor e seu poder querem executar, como também para entrar em negociações com a criatura escolhida, mas livre.

A Virgem delibera! Oh! apenas um instante, cheia de emoção, de humildade e de amor.

Deus espera a resposta, o mundo espera, o anjo espera.

E levantando a fronte gloriosa, já coroada pelos dons imensos de Deus, abrindo o coração cheio de graças, e os lábios que devem decidir a sorte do mundo. Maria, com um acento de inefável humildade, deposita nas mãos do radioso Arcanjo as palavras da salvação:

Eis aqui a escrava do Senhor! faça-se em mim segundo a tua palavra!

Esta palavra virginal de humildade e de obediência produziu nos mundos um frêmito desconhecido. O céu e a terra sentem-se comovidos, como dois irmãos que se encontram após uma longa separação!

Tendo recebido esta resposta, o anjo se inclina mais radiante que a aurora, que começa a dourar o perfil das colinas, e retira-se. Retira-se, para ceder o lugar ao Redentor, que desce.

III – CONCLUSÃO

Que se passou, então, na humilde ermida de Nazaré?

São João no-lo revelou, numa frase que é a mais bela da língua humana: O Verbo se fez carne e habitou entre nós! O que quer dizer:

O Verbo ou Palavra eterna e substancial de Deus, seu próprio e único filho, tomou a forma de um corpo, do sangue puríssimo de Maria! Era a Encarnação.

Esta encarnação compreendia duas coisas: A descida do Filho e a sua união verdadeira a nossa carne. Descendit de coelis et incarnatus est, diz o Símbolo de Atanásio. A descida do Filho de Deus é admiravelmente descrita por S. Dionísio:

“O Fiat de Maria, diz ele, fez cair Deus em êxtase.”

O êxtase é um transporte suscitado pela visão de uma beleza atraente. que fez um ser sair de si mesmo. Ora, a beleza da Virgem, a sua pureza e a sua humildade encantaram o Coração do Filho de Deus, fizeram-no sair de si, cair em êxtase até, no seio de Maria.

E, neste seio, o Filho de Deus une-se a nossa carne. São Bernardo canta em um de seus hinos:

“Contraxit se Majestas”, a Majestade divina contraiu-se para unir-se à nossa natureza, para tornar-se um de nós. No seio de Maria o Imenso se fez pequenino. O Verbo divino, que era até aí, somente o Filho de Deus, tornou-se, por Maria, o Filho do homem.

Oh! inefáveis mistérios! Prostremo-nos de joelhos, para agradecermos a Maria por seu fiat mihi, para agradecermos a vinda do Salvador, e exaltarmos a Virgem gloriosa, centro e instrumento destes grandes mistérios de salvação.

* Da celebração da festa da Anunciação em uma data determinada, o dia 25 de março, não se tem notícia antes do século VII. Não deixa de ser interessante a diversidade das designações do dia festivo: “Anunciação da Bem-aventurada Virgem Maria”, “Anunciação do Anjo à Bem-aventurada Virgem Maria”, “Anunciação do Senhor”, “Anunciação de Cristo”, “Concepção de Cristo”. Nos últimos séculos prevaleceu a “Anunciação da Bem-aventurada Virgem Maria”, sinal de que a festa foi entendida principalmente com perspectiva mariana. Na reforma litúrgica determinada pelo Vaticano II foi dada a essa festa a denominação “Anunciação do Senhor”, com um valor, portanto, predominantemente cristológico, e com razão, pois, como dito acima, o tema central do episódio e da respectiva narrativa da Anunciação é a Encarnação do Filho de Deus, e a veneração cristã de Maria radica no fato que a grandeza de sua missão e pessoa está em ter sido ela inserida por pura graça singular e divina no mistério de Jesus Cristo como Mãe do Messias Filho de Deus (cf. LG 67).

(Fontes: 1. texto: in, O Evangelho das Festas Litúrgicas e Dos Santos Mais Populares, Pe. Júlio Maria Lombaerd, Editora O Lutador, 2ª edição/1952 27ª Instrução, pp. 139-143 – Texto revisto, atualizado e destaques acrescidos; 2. Nota acerca do título da festa: in, LEXICON – Dicionário Teológico Enciclopédico, tradução João Paixão Netto e Alda da Anunciação Machado, Edições Loyola/2003, p. 36 – excerto)

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