Santo do Dia

19 DE MARÇO – DIA DE SÃO JOSÉ, ESPOSO DA SANTA VIRGEM

19 DE MARÇO – DIA DE SÃO JOSÉ, ESPOSO DA SANTA VIRGEM

Como Deus honra a São José! Coloca-o, por assim dizer, em seu próprio lugar. Confiou-lhe seu Filho único, um Deus feito homem, com sua santíssima Mãe. Confiou-lhe tais pessoas sob a mais afetuosa confiança. José é o esposo legítimo de Maria, e, neste sentido, o pai de Jesus, pai legal, pai adotivo, mas sobretudo, pai por afeição. Foi ele o primeiro homem a quem Deus revelou o cumprimento da grande promessa feita aos nossos primeiros pais, após a queda. Promessa de graça e de misericórdia, renovada de geração em geração aos profetas e patriarcas; promessa aplicada pelo profeta Isaías à casa de Davi, atribuindo-lhe, desde então, grande glória: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão Emanuel, isto é, Deus Conosco. O anjo do Senhor lhe disse: «José, filho de Davi, não receies ficar com Maria, tua esposa, porque o que nela foi concebido, é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus ou Salvador, dado que ele salvará o povo dos pecados».

Tu lhe darás o nome de Jesus … Que glória para o humilde e casto José! São Jerônimo nos diz, em seu livro contra o herético Helvídio, que São José sempre foi virgem, e é sabido que, após ter-se unido à santa Esposa, viveu sempre na mais perfeita continência. Por isso, justifica-se a intimidade que o céu lhe dedica.

Foi ele que Deus encarregou de cuidar do divino infante. Foi ele que o anjo mandou o levasse de Belém ao Egito, deste à Judéia, da Judéia a Nazaré. Como Jesus não honrava o estremecido pai! Como Maria não honrava o casto esposo! Que felicidade, que honra para ele morrer entre os braços de Jesus e de Maria! Aprendamos de Deus a glorificar tão grande santo.

Como São José se tornou o que é? Ele era humilde, pobre, dócil, temente a Deus. Descendia da família real de Davi, porém vivia do trabalho de suas mãos. Vindo para a cidade dos pais, Belém, viu-se obrigado a morar em um estábulo. Todavia, não se lamentou. o anjo lhe disse, durante a noite, que fugisse para o Egito. Levantou-se no mesmo instante. Os maiores mistérios lhe foram revelados. E o segredo foi guardado com fidelidade inquebrantável. Como não devia amar a Jesus e a Maria! Venerava sua castíssima esposa como o templo vivo de Deus, do qual ele mesmo foi instituído guarda. Com que piedade terna não devia carregar los braço; o menino Jesus, cobrindo-o de beijos, dirigindo-lhe os primeiros passos, recolhendo-lhe as primeiras palavras. Oh, quem poderá compreender a amizade recíproca desse pai e dessa criança!

Consideremos um pouco os principais acontecimentos da vida de São José. A Santa Família morava, a princípio, em Nazaré. Foi lá que Cristo foi concebido. Mas, segundo a profecia, deveria nascer em Belém. Como, pois, iria a profecia ser cumprida?

Admiremos a providência de Deus. O imperador romano, César Augusto, desejoso de saber o número dos súditos do seu império, ordenou fosse cada qual inscrever-se na sua terra natal, Como José era originário de Belém, para lá se dirigiu com Maria, sua esposa. Como a cidade fosse pequena e para lá acorresse enorme multidão, foram obrigados a se abrigarem em um estábulo. E foi nesse lugar que Jesus nasceu. Oh, que santa família a de Jesus, Maria e José! Sim, foi no estábulo de Belém que ela se tornou completa! Quem não ambicionaria a glória desse estábulo?

São José de Miguel Cabrera.

Os anjos do céu a proclamam. Glória a Deus no mais alto dos céus, diziam, e paz na terra aos homens de boa vontade. Anunciaram a boa nova aos pastores: Não temais, hoje vos nasceu um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi. Eis o sinal pelo qual o reconhecereis: Encontrareis um menino envolto em faixas e deitado em uma manjedoura. Vinde, humildes pastores, vinde, sede os primeiros! Vinde ver e amar o Salvador que vos nasceu. E ei-los a contar a Maria e a José o que viram e ouviram. Maria e José se encheram de admiração e de alegria.

Depois dos pastores de Belém vieram os reis do Oriente, os magos. Ofereceram ao novo rei dos judeus ouro, incenso e mirra. Novo motivo de admiração por parte de Maria e de José. Iluminados pelo Espírito de Deus, viram nesses magos o cumprimento das profecias; viram as primeiras conversões dos gentios a Deus. E esses gentios somos nós mesmos. Desde então nos regozijamos pelos corações de Maria e de José.

Mas isso não é tudo. Quarenta dias após o nascimento do infante Jesus, São José o apresentou, com Maria, no templo, para oferecê-lo a Deus e resgatá-lo pelo sacrifício de duas rolinhas. Maria e José foram as pessoas que o ofereceram a Deus, no templo, Ele, o filho eterno e único de Deus, feito homem e vítima. O santo velho Simeão o reconheceu, o abraçou, adorou e o proclamou, não apenas glória de Israel, mas Salvador de todos os povos, luz de todas as nações. Uma santa profetisa juntou seus louvores. Maria e José se encheram de admiração. Simeão os bendisse e a Maria, mãe do menino, dirigiu estas palavras: «Este foi posto para ruína e para a ressurreição de muitos em Israel e como sinal de contradição. E tua alma será traspassada por uma espada, para que sejam descobertos os pensamentos de muitos, escondidos no fundo do coração». Essa espada, essas contradições, começarão imediatamente.

Após a partida dos magos e a apresentação no templo, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse; «Levanta-te, toma a criança e sua mãe e foge para o Egito e fica lá até que te avise, porque Herodes procurará o menino, para matá-lo». José levantou-se, tomou a criança e a mãe durante a noite e se retirou para o Egito. Lá ficou até a morte de Herodes; para que se cumprisse o que o Senhor tinha anunciado pelo profeta, ou seja: Do Egito chamei meu Filho.

Se Deus nos tivesse encarregado do bem-estar da santa Família, provavelmente, em lugar de fazê-la pobre, tê-la-íamos feito muito mais rica do que Abraão. Em lugar de fazer com que Jesus nascesse em um estábulo, ter-lhe-íamos dado um berço mais rico do que o de Salomão. Deus não pensou como nós. Não somente quis que a santa família fosse pobre, mas abrigou-a em um estábulo. As riquezas e os palácios, deixou-os para o malvado Herodes, que, ao invés de nisso encontrar felicidade, encontro invejas, ódios e todas as paixões. Não é tudo. Poder-se-ia esperar que a santa família fosse ao menos tranquila em sua pobreza. Mas, isso não se deu, porque teve de fugir em plena noite, como se fosse uma família de malfeitores. Atravessou os desertos e dirigiu-se para o Egito, país desconhecido, onde não havia outro recurso que a Providência e o trabalho das próprias mãos. Anjos do céu, cuidai destes pobres emigrantes!

E durante esse tempo, que fez Herodes? Matou as criancinhas de Belém e dos arredores. E não parou aí a mortandade. Matou o avô de sua esposa, o cunhado, a própria mulher e três filhos. Quis matar a si mesmo. Ordenou que, à sua morte, fossem mortos os principais chefes de família, para que nos seus funerais houvesse muito pranto. O palácio deste homem malvado era feito de invejas, ódios, acusações de uns contra os outros, conspirações, assassinatos, envenenamentos. Era verdadeira imagem do inferno. Santa família de Jesus, Maria e José, preservai-nos, preservai-nos de algo se semelhante! Refugio-me no vosso seio. Dignai-vos receber-me, se não como criancinha, pelo menos como servo. Prefiro ser humilde na casa de Deus, a habitar nos palácios dos pecadores.

Após a morte de Herodes, um anjo apareceu em sonho a José, no Egito, dizendo-lhe: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e volta para o país de Israel, porque já são mortos os que procuravam a alma da criança. José se levantou, tomou a criança e a mãe e voltou para a terra de Israel. Mas, sabendo que Arquelau reinava na Judéia, em lugar de Herodes, seu pai, temeu ir para lá. E, advertido em sonho por aviso divino, retirou-se para a Galiléia. Lá chegando, foi morar em uma pequena cidade chamada Nazaré, a fim de que se cumprisse o que havia sido dito pelos profetas: «Será chamado Nazareno», em hebraico, Notzer ou Notzri.

Esse nome se encontra em dois lugares dos mais importantes da Escritura. A pessoa divina que aparece a Moisés e que se chama Jeová, Deus misericordioso, clemente, paciente, verdadeiro, toma também o nome de Notzer. E, em todos os livros hebraicos esse nome é escrito com inicial maiúscula, para indicar, dizem os doutores judeus, que ele encerra um profundo mistério. E esse nome misterioso começa esta série da mesma invocação: Guardando a misericórdia de até mil gerações, retirando a iniquidade, os crimes e os pecados. Não é difícil entrever que os judeus têm razão, e que esse nome encerra efetivamente grande mistério com relação a Cristo. outra passagem é de Isaías, quando diz: «Um rebento nascerá do tronco de Jessé, e um germe, uma flor (Notzer) se erguerá de suas raízes». Esse rebento, esse germe, esse Notzer, receberá o Espírito de Jeová sobre si – segundo se diz – será educado para ser o estandarte dos povos, as nações correrão para ele e seu sepulcro será glorioso. Como Jesus morou em Nazaré, os judeus o chamavam Notzer, Notzri ou Nazareno. Esse título foi afixado na cruz. E a cruz tornou-se o estandarte das nações e o Nazareno é adorado pelo universo como o Notzer de Moisés, como o Deus clemente e verdadeiro, que guarda misericórdia até mil gerações, que arranca, que apaga os pecados do mundo. Sem duvida que há nesse nome grande mistério, mas um mistério cumprido, um mistério esclarecido.

«Todavia o menino crescia e se fortificava; era cheio de sabedoria e de graça de Deus, estando nele. Seus pais iam todos os anos a Jerusalém, por ocasião da Páscoa. E, quando atingiu a idade de doze anos, para lá foram, segundo o costume, ao tempo da festa. Passados os dias de solenidade, quando voltaram, o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seu pai e sua mãe disso se apercebessem. Pensando que estivesse com os companheiros, caminharam um dia, e o procuraram entre os parentes e os conhecidos. Mas, não o encontrando, voltaram a Jerusalém, para lá procurá-lo. Aconteceu que, três dias após, o encontraram no templo, sentado no meio dos doutores, escutando-os e interrogando-os. E todos os que o ouviam, estavam admirados de sua prudência e de suas respostas. Quando o viram, foram tomados de espanto; sua mãe lhe disse: «Meu filho, por que fizeste assim conosco? Eis que te procurávamos, teu pai e eu, aflitíssimos. E ele lhes respondeu: Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?» Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dizia. E voltou com eles a Nazaré e lhes era submisso. E sua mãe conservava todas essas palavras no coração. E Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e dos homens.

Querendo ser em tudo semelhante a nós. Exceto no pecado, estava, como as demais crianças, sujeita a sentir os progressos da idade. Crescia e se fortificava. A sabedoria, da qual estava cheio, crescia com a idade, se revelava por degraus. Todavia, desde o berço e desde o seio de sua mãe, estava pleno de sabedoria. Sua santa alma, desde a concepção, unida à sabedoria eterna em unidade de pessoa, era intimamente dirigida, e recebeu a princípio um dom de sabedoria acima de tudo, alma que era do Verbo divino, alma pura; de sorte que, de acordo com a própria humanidade, todos os tesouros da ciência e da sabedoria estavam infusos nele. Nele se encontravam, porém, escondidos, para se revelarem no tempo oportuno. E a graça de Deus estava nele. Quem duvidaria disto, se ele estava tão estreitamente unido à fonte da santidade e da graça? Mas o santo Evangelista quer dizer que à medida que o menino crescia e começava a agir por si próprio, reluzia-lhe em todo o exterior não sei o que, que fazia em si mesmo e que atraia as almas para Deus, tanto era simples, comedido, ponderado em todas as ações e palavras.

José e Maria, segundo o preceito da lei, não faltavam, todos os anos, às celebrações da Páscoa, no templo de Jerusalém. Levavam o filho querido junto, que percebia essa santa observância e talvez se deixasse instruir a respeito do mistério dessa festa. Ele já estivera nela, antes de nascer; ele era o fundo da festa, dado que era o verdadeiro cordeiro que devia ser imolado e comido em memória de nossa passagem para a vida futura. Mas Jesus, sempre submisso aos pais mortais durante sua infância, deixou um dia patente que sua submissão não provinha da fraqueza e da incapacidade de uma idade ignorante, mas de ordem mais profunda.

Escolheu, para cumprir esse mistério, a idade dos doze anos, quando se começava a obter capacidade cie raciocínio e de reflexões mais sólidas, a fim de não parecer querer forçar a natureza, mas, antes, seguir-lhe o curso e,o progresso.

A subtração de Jesus, escapando à sua santa Mãe e ao santo José, não é uma punição, mas um exercício. Não se lê que tenham sido acusados de tê-lo perdido por negligência ou por qualquer falta; é, pois, uma humilhação e um exercício. Primeiramente, sentiram-se inquietos, depois tristes, pelo fato de não o encontrarem entre os parentes e os conhecidos, entre os quais julgavam estar. Quantas vezes, se nos é permitido fazer conjeturas, quantas vezes o santo ancião deve ter-se mortificado, pelo pouco cuidado que tivera com o depósito celeste! Como não teria ficado aflita com ele a terna mãe, como a melhor esposa que jamais existiu?

Os encantos do santo menino eram surpreendentes. É para admitir que todos o quisessem para si. E nem Maria nem José podiam deixar de crer que estivesse em qualquer grupo de viajantes, porque as pessoas da mesma região iam a Jerusalém em grupos, para se fazerem companhia. Assim, Jesus escapou facilmente e seus pais caminharam um dia sem se aperceberem da perda.

Voltai a Jerusalém, Não é entre os parentes, nem entre os homens que se deve procurar Jesus Cristo. É na cidade santa. É no templo que o encontraremos ocupado com os assuntos de seu Pai. Com efeito, após três dias de procura laboriosa, quando tinha sido bastante pranteado e procurado, o santo menino se deixou encontrar no templo.

Estava sentado no meio dos doutores. Estes o escutavam e o interrogavam. E todos os que o ouviam se admiravam de sua prudência e de suas respostas. Ei-lo, pois, de um lado, sentado com os doutores, como se ele mesmo fosse um deles e tivesse nascido para ensiná-los; e de outro, não o vemos dar lições expressas. Escutava, interrogava os que eram reconhecidos como mestres em Israel, não juridicamente, por assim dizer, nem dessa maneira autêntica da qual usou mais tarde. Era, se podemos dizer, um menino, e como que desejoso de ser instruído. É por isso que foi dito que escutava e respondia, por sua vez, aos doutores que o interrogavam; e se admiravam de suas respostas, menino modesto que era, doce e bem instruído, nele percebendo, como rá claro, algo de superior, de sorte que o deixavam tomar lugar entre os mestres.

Admiremos como Jesus, por sábia economia, soube conduzir todas as coisas e como deixou transparecer algo do que era, sem querer perder inteiramente o caráter de criança. Ide ao templo, crianças cristãs; ide consultar os doutores; interrogai-os respondei-lhes; reconhecei nesse mistério o começo do catecismo e da escola cristã. E vós, pais cristãos, se Jesus não se furta a interrogar, responder e escutar, como podeis subtrair vossos filhos ao catecismo e à instrução pastoral?

Admiremos também, como todos os outros, a prudência de Jesus, prudência não somente acima da idade, mas ainda absolutamente acima do homem, acima da carne e do sangue; prudência do espírito. Poderíamos aqui relembrar algumas das respostas de Jesus que fizeram os doutores admirar-lhe a prudência, Mas o Evangelho nos conservou uma que nos fará conhecer suficientemente a natureza de todas as outras.

Seus pais ficaram admirados de encontrá-lo entre os doutores, aos quais causava espanto. O que assinala que estes não viam nele nada de extraordinário no comum da vida, porque tudo estava como que envolto no véu da infância; e Maria, que era a primeira a sentir a perda de um filho tão querido, foi também a primeira a lamentar-lhe a ausência. E, meu filho, disse ela, por que nos fizeste isso? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos. Notai: teu pai e eu. Ela disse pai e, de fato, ele o era, como já vimos; pai, não somente pela adoção do santo menino, mas ainda verdadeiramente pai pelo sentimento, pelo cuidado, ela doçura; o que fez com que Maria dissesse: teu pai e eu, aflitos. Iguais na aflição, porque sem ter tomado parte no teu nascimento, partilha comigo da alegria de te possuir e da dor de te perder. Todavia, mulher obediente e respeitosa. nomeia a José por primeiro: teu pai e eu, dando-lhe a honra de tratá-lo como se fosse pai a exemplo dos demais. Ó Jesus, como tudo e ponderado em tua família! Como cada qual, sem olhar para as honrarias que merece, faz o que pede a edificação e o bom exemplo!. Família bendita, é a sabedoria eterna que te dirige!

Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? Eis a resposta sublime do menino. Teria com isso corrigido a Maria, por ter chamado a José de seu pai? Absolutamente. Ele lembra apenas a doce lembrança de seu verdadeiro pai, Deus, cuja vontade, assunto do qualquer falar, deve ser sua ocupação. A vontade do Pai era que lhe desse, então, uma amostra da sabedoria da qual estava pleno e que vinha declarar, juntamente com a superioridade como devia tratar os pais mortais, sem seguir a carne e o sangue, seus superiores de direito, a eles submetido por deferência especial.

E eles não compreenderam o que ele lhes dizia. Não raciocinemos mal a propósito deste texto do Evangelho. Afirma-se não apenas de José, mas também de Maria, que não compreenderam o que Jesus lhes queria dizer. Maria compreendia, sem dúvida, o que ele dizia de Deus, seu Pai, pois um anjo lhe havia anunciado o mistério. O que não compreendeu profundamente, na medida em que o assunto o merecia, foram as coisas de seu Pai, das quais devia se ocupar. Aprendamos que não é na ciência, mas na submissão que consiste a perfeição. Para nos impedir de duvidar disso, Maria mesma nos é apresentada como ignorando o mistério do qual lhe falava o filho querido. Ela não se mostrou curiosa, absolutamente, continuou submissa; é o que vale mais do que a ciência. Deixemos Jesus Cristo agir em Deus, fazer e dizer coisas altas e impenetráveis. Olhemos para ele, como Maria o fez, com santo espanto. Conservemo-lo em nosso coração, para nelas meditarmos e as assimilarmos, para as compreendermos, quando Deus o quiser, na medida em que o dispuser.

E ele partiu com os pais e foi para Nazaré. Após ter-se afastado um pouco, para dedicar-se à obra e ao serviço de seu Pai, tornou à vida ordinária, obedecendo aos pais. É, talvez, misticamente que o Evangelho fala em descer. Mas, seja o que for, a verdade é que, voltando para junto dos pais, até o batismo, ou seja, até a idade de trinta anos, não fez outra coisa senão obedecer-lhes.

Sinto-me preso de espanto a esta palavra. Estaria nisso todo o emprego de Jesus Cristo, do Filho de Deus? Todo seu emprego, todo seu exercício é obedecer a duas de suas criaturas. E em que lhes obedecer? Nos exercícios mais humildes, na prática de um serviço mecânico. Onde estão os que se lamentam, que murmuram quando seus serviços não correspondem às capacidades que possuem – digamos melhor ao orgulho? Que venham à casa de José e Maria e que vejam Jesus trabalhar. Não lemos que seus pais tenham tido criados, semelhantemente às pobres pessoas cujos filhos são os servidores. Jesus disse de si mesmo, que tinha vindo para servir. Os anjos foram obrigados, por assim dizer, a virem servi-lo no deserto. E não vemos em nenhuma parte que tenha tido servidores. O certo é que ele trabalhava na oficina de seu pai. Compete esclarecer que, pelo que parece, perdeu José antes do tempo de seu ministério. Por ocasião da paixão, deixou sua mãe com o discípulo bem amado, que a recebeu em sua casa, coisa que não teria feito, se José, seu casto esposo, ainda estivesse vivo. Desde o começo de seu ministério, vê-se Maria convidada com Jesus às bodas de Caná; não se fala de José. Pouco depois, vemo-lo em Cafarnaum, com sua mãe, irmãos e discípulos. José não aparece. Maria aparece muitas vezes. Mas, depois de ter sido educado por São José, não se fala mais deste santo homem. E quando, no começo de seu mistério, Jesus Cristo vinha pregar em sua terra, dizia-se: Não é este o carpinteiro filho de Maria? Como ele, não nos envergonhemos pelo fato de o terem visto, por assim dizer, manter a oficina, sustentar com seu trabalho a mãe viúva e levar adiante o pequeno comércio de uma profissão que garantia a subsistência de ambos. Sua mãe não se chama Maria? Não temos entre nós seus irmãos Jacó e José, e Simão e Judas e suas irmãs? Não se fala de seu pai. Aparentemente, pois, já o havia perdido. Jesus o servira durante sua última doença. Feliz pai a quem tal filho fechou os olhos! Verdadeiramente, morreu-lhe nos braços e como que num beijo do Senhor. Jesus ficou para consolar sua mãe, para servi-la. Nisso consistiu todo seu exercício.

Santa família de Jesus, Maria e José, ah, se todas as famílias vos fossem semelhantes! O céu começaria na terra! Não teríamos guerras, violências, injustiças, processos, ódios. Por toda parte reinaria a paz, a união, a concórdia, a caridade. Todos amariam todos em Deus e Deus em todos.

(Fonte: in Vida dos Santos, Editora das Américas, Vol. V, Padre Rohrbacher, 1959, pp. 141-152 – Texto revisto e atualizado e alguns destaques acrescidos)

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