Catolicismo

14 DE SETEMBRO – FESTA DE EXALTAÇÃO OU GLORIFICAÇÃO DA SANTA CRUZ

14 DE SETEMBRO – FESTA DE EXALTAÇÃO OU GLORIFICAÇÃO DA SANTA CRUZ

O primeiro dia em que a Cruz foi exaltada, isto é, glorificada, foi aquele em que o Filho de Deus nela foi pregado para a salvação do mundo. Ele dissera: «Quando eu for exaltado, levantado sobre a terra, atrairei a mim todas as coisas». Erguido na Cruz, atrai a si o ladrão penitente; atrai a si o centurião romano, que glorifica a Deus e confessa que o homem que acaba de expirar é realmente um justo; atrai a si os judeus e os gentios, de Jerusalém à Roma. A Cruz aparece ao Imperador Constantino com as palavras: “Com este sinal vencerás”. Santa Helena, mãe de Constantino, torna a encontrar a Cruz do Calvário, enterrada sob ruínas. Numerosos milagres revelam-na e glorificam-na. Desde então a Exaltação, ou glorificação da Santa Cruz, torna-se uma festa na Igreja. Santa Maria Egipciana, ainda pecadora, dispõe-se a adorá-la, mas só o consegue depois de resolver-se a fazer penitência pelos seus pecados. Essa festa ainda se torna mais solene no sétimo século, quando a Cruz foi transportada da Pérsia para Jerusalém pelo Imperador Heráclio.

No início do referido século, uma guerra sangrenta irrompeu entre os persas e os gregos. Essa guerra durou vinte e quatro anos, sendo que os dezoito primeiros constituíram para os gregos uma série contínua de derrotas. Em todo o Oriente, das ruínas da antiga Babilônia ao estreito de Constantinopla, cidades foram incendiadas e destruídas, campos devastados, e abandonados sem cultura, habitantes degolados, ou levados como cativos. Os persas invadiram sucessivamente a Armênia, a Mesopotâmia, a Capadócia e, em 610, chegaram às portas da Calcedônia. O advento de Heráclio não lhes interrompeu as devastações. No ano de 611, tomaram Edessa, Apaméia, Antioquia. Em 615, devastaram a Palestina e apossaram-se de Jerusalém. As igrejas, mesmo a do Santo Sepulcro, foram entregues às chamas; os habitantes, assim como o Patriarca Zacarias, levados em cativeiro. Os persas carregaram tudo quanto havia de mais precioso e, entre outras coisas, o lenho da verdadeira Cruz. O patrício Nicetas resgatou de um oficial persa, por uma vultosa quantia, a santa esponja e a santa lança, que foram transportadas para Constantinopla e expostas à veneração dos fiéis.

(Foto: InfoCatólica)

O imperador Heráclio permaneceu dez anos na inação. Como que despertou em 621 e iniciou uma série de campanhas nas quais não cessou de bater os persas. Corces, rei destes últimos, recusava todas as propostas de paz. Matara seu pai para reinar no lugar dele. Em 628 foi por sua vez assassinado por um de seus filhos, que lhe sucedeu. Siroes, o novo rei, tratou da paz com Heráclio, que lhe devolveu todos os cristãos cativos na Pérsia, entre eles Zacarias, Patriarca de Jerusalém, e também a verdadeira cruz, que Sabar carregara quando a cidade fora tomada, quatorze anos antes. Foi ela primeiramente transportada para Constantinopla; mas no ano seguinte, 629, o imperador Heráclio embarcou para levá-la de volta para Jerusalém e dar graças a Deus pelas vitórias obtidas. Lá chegando, tomou a cruz nos ombros, a fim de conduzi-la à igreja do Calvário, no mesmo lugar e pelo mesmo caminho através do qual o Salvador a carregara. Como vencera os Persas, o Imperador envergava roupas magníficas. Porém, ao chegar à porta que levava ao Calvário, sentiu-se detido por mão invisível. Quanto mais se esforçava para avançar, mais se sentia contido. Todos se mostravam surpresos. Então o Patriarca Zacarias falou: “Reparai, príncipe, se esses trajes pomposos imitam a humildade e a pobreza de Jesus Cristo, o próprio que transpôs esta porta sob o peso da cruz?” O Imperador compreendeu. Despojou-se de todos seus adornos, vestiu um hábito comum e, descalço, levou facilmente a Cruz até o Calvário, onde a colocou no seu lugar. Ela permanecia no seu estojo de prata, tal como fora levada; o patriarca, assim como o clero, verificou que os sinetes estavam perfeitos, abriu o envólucro com a chave, adorou o santo lenho e o mostrou ao povo. Esse restabelecimento da Cruz tornou ainda mais solene a Festa da sua Exaltação, já anteriormente celebrada.

O império dos persas, povo que tantas vezes e com grande crueldade havia perseguido o cristianismo e finalmente levado embora a Cruz, recebeu pouco depois o seu castigo. Foi destruído pelo império dá Maomé, que de acordo com uma profecia de Daniel, devia humilhar três outros, o dos persas, o dos gregos, o dos visigodos, na Espanha, e perdurar durante mil duzentos e sessenta anos. Esse período terminará em nossos dias. Iniciado em 662, o império maometano, pelo menos como império anticristão, deverá acabar em 1882. Assim, desde agora, 1854, anuncia a sua própria agonia; ameaçado pela Rússia cismática e meio bárbara, implora a assistência dos poderes cristãos e católicos, implora a assistência da Cruz que durante tanto tempo combateu. Promete conceder plena liberdade aos adoradores da Cruz. De maneira que essa guerra colossal, que se arma de todos os lados, anuncia-nos uma nova Exaltação, uma nova glorificação da Cruz, e podemos cantar mais alto do que nunca: Christus uincit, Christus regnat, Chrístus imperat; a Cristo a vitória, a Cristo a realeza, a Cristo o império.

(Fonte: in Vida dos Santos, Padre Rohrbacher, Editora das Américas, 1959, Volume XVI, pp. 188-191 – Texto revisto e atualizado, bem como destaques acrescentados)

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