CatolicismoRito Tradicional

QUEM NÃO É COMIGO É CONTRA MIM

Terceira Dominga da Quaresma - Goffiné.

QUEM NÃO É COMIGO É CONTRA MIM

(imagem: Plinio Correia de Oliveira)

(Terceira Dominga da Quaresma)

Mudo e cego era o endemoninhado de que reza este Evangelho (Lc. 11, 14-28), não, porém, por natureza, senão porque o demônio lhe tirara o uso da língua e dos olhos.

Bem noticioso aquele inimigo da nossa ventura, da vantagem e do alívio que encontramos em revelar nossas fraquezas e misérias a um diretor esclarecido, procura incutir-nos uma falsa vergonha que nos tape a boca; logremos-lhe a infernal astúcia, abrindo nosso coração todo aos guias que Deus nos deu no caminho do céu.

Bem se pode chamar cego todo pecador. Que cegueira, com efeito, mais digna de lástima do que preferir um gosto breve e aguado à posse do próprio Deus, fonte perene de todos os bens; do que por momentâneo prazer despenhar-se na eternidade de suplícios!

Cegos de inveja, os fariseus só enxergam obras do demônio onde o povo singelo vê manifesto o poder divino; sirva isto de consolação aos servos de Deus quando forem tratados como Jesus Cristo, quando, não lhes podendo condenar as obras exteriores, atribuem o bem que fazem a outro princípio que não o Espírito de Deus que os anima.

Pediam-lhe outros um sinal do céu.

Busca sempre o incrédulo novas provas da religião, para resistir-lhe com às outras que conhece; assim o pecador exige para converter-se novas graças, que sempre inutiliza. Bastavam as ações de Cristo Senhor Nosso para convencer os Judeus de como era ele o Messias, mas para cego voluntário não há sol que faça dia.

Quem não é comigo é contra mim. Não pode haver neutralidade entre Jesus Cristo e o príncipe das trevas: ou todo deste ou todo daquele. São puras ilusões todas as reservas quando se trata de religião ou de moral. Basta negar um artigo de fé para ser infiel; quebranta a lei toda, diz S. Tiago, quem lhe viola um ponto qualquer. Sois casto, mas orgulhoso; reportado, austero, piedoso, mas murmurador; esmoler, mas rancoroso; não sois todo de Jesus Cristo, deixai-vos todo ao demônio. Com Deus não há reservas nem trato de meias; sois do demônio, não há ser de Cristo; se fósseis de de Jesus Cristo, serieis por inteiro, oposto ao espírito do demônio.

A volta do espírito maligno na alma que deixara, assinala a ruína dos Judeus e os funestos efeitos da recaída.

Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e as guardam. Tais são o privilégio e a ventura da Mãe Santíssima de Cristo Nosso Senhor que não os podem compreender os homens nem os Anjos. São de arrebatar em admiração todos os espíritos, a eminente santidade de Maria e seu onipotente crédito diante do Pai e do Filho; merece-lhe a sublime dignidade de Mãe de Deus as homenagens de todos os corações; ainda assim, predileta de Deus Pai, de Deus Filho, de nada lhe serviria ser por Deus assumida a tão excelsa dignidade, se não lhe correspondesse com perfeita docilidade, profunda humildade, com fé absoluta, pureza ilibada, santidade sem par. Assim declara Jesus aos Judeus que o ter sido sua nação escolhida de Deus para seu povo predileto, só lhes agradava a desgraça, por tornar mais grave o seu crime, caso não acreditassem na doutrina do Salvador e não praticassem os seus ensinamentos.

SÚPLICA

Ó MEU divino Jesus que me tirastes do cativeiro do demônio, bendito sejais! Livrai-me sempre dos seus artifícios, da mal entendida vergonha que me impeça uma confissão sincera dos meus pecados, de todos, de todo humano respeito que tanto vos ofenderia!

Livrai-me da ociosidade, das más companhias, dos maus livros; concedei-me o triunfo sobre minhas inclinações ruins e a final perseverança em vosso santo serviço. Amém.

(Fonte: livro Manual do Christão – Goffiné, Frei Leonardo Goffiné, Colégio da Imaculada Conceição, Botafogo/RJ, 10ª edição/1925, pp. 384-386 – Texto revisto e atualizado e alguns destaques acrescidos)

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