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DOMINGO DE PÁSCOA
A Ressurreição de Jesus.
DOMINGO DE PÁSCOA – RESSURREIÇÃO DE JESUS
PREPARAÇÃO. “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos regenerou para a bem-aventurança pela ressurreição de Jesus” (1Pd 1, 3-4). Assim fala o príncipe dos apóstolos. Ele nos ensina: 1º com que sentimentos de alegria e reconhecimento devemos celebrar o grande mistério deste dia; 2º os frutos preciosos que dele podemos haurir. – Passemos o grande dia da Páscoa no recolhimento, em santa alegria e espírito de oração. ln oratione confitebitur Domino (Eclo 39, 9).
1º Sentimentos que requer o mistério deste dia
Que alegria para uma família em prantos, quando vê um pai ternamente amado passar subitamente dos horrores da morte para uma nova vida, para a saúde perfeita! Vimos Jesus, nosso Pai por excelência, abismado num oceano de tristeza e angústias, submergido pelas grandes águas de mortais tribulações, e ei-lo livre de tudo isso! Vem a nós, não já carregado das cadeias humilhantes do sepulcro, mas circundado da glória da ressurreição. “Que brilho em sua pessoa, exclama Santa Teresa, que beleza! Que majestade! a vitória resplandece dos seus olhos! com quanto júbilo bate o seu coração à vista do campo de batalha onde conquistou o reino imortal para reparti-lo conosco!”
Quantas consolações inefáveis para os discípulos e sobretudo para Maria Santíssima! Unindo-nos a eles e a toda a Igreja, devemos celebrar com santa alegria o triunfo do nosso Redentor e libertador. No dia de hoje ele selou a nossa restauração espiritual esperada há tantos séculos. Os patriarcas e profetas saudaram de longe o que nós vemos, mas não tiveram o gozo que desfrutamos. Quanta gratidão devemos a Deus por nos ter feito nascer depois que o sol de justiça completou seu curso e encheu o universo de seu esplendor, calor e benfazeja fecundidade! Nunca poderíamos louvá-lo o bastante por este favor que é a fonte de tantos bens.
Os tesouros confiados à Igreja em nosso favor são imensos; superam infinitamente os fracos meios de salvação que a sinagoga possuía. Compreendamos, pois, a dívida de gratidão que se nos impõe neste dia para com aquele que morreu e ressuscitou por nós.
O meio mais seguro de a saldarmos é: 1º repassar em nosso coração as tocantes provas de amor que Jesus nos deu na sua paixão e que completou em sua ressurreição gloriosa; 2º fugir, para isso do ruído do mundo e da vida dissipada; retirar-nos em nosso interior por um recolhimento suave e tranquilo; visitar Jesus nas Igrejas em que ele habita, a entreter-nos inteiramente com ele. Suave e celeste delícia é conversar com o mais terno dos amigos, o mais amante dos irmãos, o mais generoso e devotado dos benfeitores. Jesus, a vossa ressurreição é o modelo, a causa exemplar da nossa transformação espiritual, isto é, da passagem das nossas almas do estado de pecado ao estado de graça, da tibieza a um fervor constante e contínuo. Dignai-vos ressuscitar-me dessa maneira, mudando minha vida natural, rotineira, em uma vida de fé, oração, amor devotamento. Quae sursum sunt quaerite, quae sursum sunt sapite.
2º Frutos da ressurreição de Jesus
“Vós, que haveis sido instruídos na escola de Jesus, diz São Paulo, deveis ter aprendido a despojar-vos do homem velho e revestir-vos do homem novo, criado segundo Deus em justiça e santidade” (Ef 4, 21-24). O velho homem, de que fala o Apóstolo, é esse composto de orgulho, amor próprio, egoísmo, sensualidade, más inclinações, instintos depravados, o qual vive em nós desde a queda original e que tende a submeter-nos a Satanás e ao pecado. Jesus morreu para dele nos libertar, e insiste conosco a que trabalhemos com ele para a destruição deste mal.
O homem novo, de que fala ainda o Apóstolo, é a nossa alma espiritual, regenerada em Jesus Cristo pela graça, ornada de virtudes e dons sobrenaturais, no afã de seguir as pegadas do divino Mestre pela vida de justiça e de santidade. Esse homem novo, que está dentro de nós, encontra em Jesus ressuscitado o seu apoio e o seu modelo; o seu apoio, contanto que procuremos em Jesus, pela oração, os princípios da vida sobrenatural que alimentam a nossa alma; o seu modelo, porque a ressurreição corporal do Redentor é o ideal, a causa exemplar da nossa ressurreição espiritual. Ut quomodo Christus resurrexit, ita et nos in novitate vitae ambulemus (Rom 6, 4-5).
Se, pois, morrermos a nós mesmos e ressuscitarmos assim com Jesus todos o dia do nosso exílio, teremos parte em seu triunfo e em sua beatitude. Como o patriarca José saiu outrora da prisão para reinar sobre o Egito, fazendo seus irmãos participantes da sua sorte, assim o Salvador ressuscitou glorioso do sepulcro para entrar pouco depois na sua glória e lá esperar os que, conformando-se com sua vida, merecerem ser chamados seus irmãos.
Desejamos esse belo título e os esplendores que o coroarão um dia? Neste caso, tomemos a resolução generosa: 1º de sacudir o jugo das nossas paixões e de combater em nós a vaidade, o amor das comodidades e dos prazeres; 2º de praticar de preferência as virtudes difíceis, as que exigem o sacrifício dos nossos defeitos ordinários, sobretudo da nossa paixão dominante.
Jesus ressuscitado, pelos vossos méritos infinitos, dai-me a força de renunciar-me e a todas as satisfações terrenas, a fim de encontrar só em vós a minha alegria, o meu repouso, a minha esperança e o meu amor. Em união com a vossa Santíssima Mãe e todos os vossos apóstolos, quero santificar este grande dia pelo espírito de oração e pelo desejo de consagrar-me inteiramente a vós.
(Fonte: in Meditações Para Todos os Dias do Ano, R. P. Bronchain, C.SS.R, traduzidas da 13ª edição francesa pelo R. P. Oscar Chagas, C. SS.R., Tomo Primeiro, Editora Vozes, 1940, pp. 276-278, obra em formato PDF obtida do blog Alexandria Católica. Texto revisto, atualizado e com destaques acrescidos)