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O que é a pobreza espiritual?
O que é a pobreza espiritual?
Não é questão de dinheiro, mas de coração: a pobreza espiritual é a primeira condição para poder se abrir ao amor de Deus.
As bem-aventuranças de Jesus nos apresentam o programa do Reino de Deus. São como as condições para a entrada nesse reino novo que Cristo inaugura já na terra. Sobretudo a primeira, a da pobreza, é muito decisiva para que a pessoa seja autenticamente cristã.
Felizes os pobres, os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus: não haverá entrada para nós no Reino de Deus se não formos pobres de espírito. Porque a pobreza é a primeira condição para ser acessível, permeável a Deus. Ela é o ponto de partida da vida cristã.
Sabemos que a pobreza de alma não é uma questão de dinheiro, mas de coração. O fato de que ter dinheiro não é em si uma virtude. Uma pessoa pode não ter nem um centavo, mas possuir uma atitude de rico. E outra pode ter muitos bens e possuir uma atitude de pobre.
A pobreza evangélica é uma atitude espiritual, e todos nós somos convidados a ela – e isso não tem nada a ver com os nossos bolsos.
Qual é, então, a atitude de pobreza espiritual?
O pobre está disposto a deixar-se questionar por Deus, sempre. Ele aceita abandonar suas posições, suas estruturas, seus princípios, tudo o que lhe é próprio. Felizes os que estão convencidos de que ninguém é dono de si mesmo e de que Deus pode nos pedir tudo.
Só o pobre sai de si mesmo e se coloca em caminho. É aquele que não se resigna a estar tranquilo e aceita ser “incomodado” pela palavra de Deus. Por isso, Abraão foi o primeiro pobre, o primeiro fiel à voz de Deus, quando Deus lhe pediu para sair da sua terra e ir à terra que Ele lhe mostraria (cf. Gn 12, 1).
Abraão escutou a Palavra de Deus, acreditou nela, abandonou seu país, o lugar cômodo onde vivia, deixou seus bens, seus hábitos, seu passado e se colocou em caminho. E partiu sem saber aonde ia (cf. Hb 11, 8) – sinal infalível de que estava no bom caminho, como afirmou São Gregório Nazianzeno, um dos Padres da Igreja.
O pobre tem consciência de que depende totalmente de Deus. Conhece sua limitação humana. No fundo, cada pessoa, mesmo sem saber, é um pobre.
E a pobreza material é bem-aventurada porque é o sinal visível de uma pobreza muito mais profunda e universal: nossa pobreza moral nossa fé miserável, nosso amor raquítico. Todos nós somos pobres diante de Deu, com nossa culpa, nossa miséria, nossa deficiência. Mas nem todos se reconhecem assim diante do Senhor.
Só aquele que conhece e reconhece sua fraqueza e pequenez diante de Deus consegue colocar toda a sua confiança nele, buscando sua proteção poderosa. Nesta atitude de pobreza espiritual, a pessoa se esvazia de si mesma. E porque está aberta e disponível para Deus, o Senhor pode agir em sua alma.
E quando achamos que já não temos necessidade de Deus, quando estamos satisfeitos conosco mesmos, com nossos conhecimentos, nossas práticas religiosas, com o fato de não querer mais nada, quando já não esperamos nada de Deus… então somos ricos.
Penso que não há pecado maior que o de não esperar nada de Deus. Porque, se não esperamos nada de Deus, é porque já não acreditamos nele, já não o amamos.
(Fonte: in Aleteia, postagem do dia 30/09/2014 “Estilo de Vida”)