A MENSAGEM DE SÃO BENTO AO MUNDO DE HOJE

(Excertos da transcrição de palestra proferida pela autora da obra em Itapecerica-MG, na festa de São Bento, Padroeiro da Cidade, em 13.07.1990)

A mensagem de São Bento é para todos os homens de todos os tempos, de todos os lugares e de todas as idades.

A primeira razão ou motivação do interesse ainda hoje da mensagem de São Bento situa-se no fato misterioso, segundo o qual a vida beneditina se apresenta, quase paradoxalmente, de um lado, como depositária dos grandes valores religiosos e monásticos da antiguidade cristã e, de outro lado, como forma de espiritualidade cuja enculturação se faz em qualquer tempo e espaço, de acordo com as culturas do povo, da vida do leigo no mundo.

Prova disso é que os mosteiros organizam os chamados grupos de oblatos que se compõe de leigos: homens, mulheres, solteiros, casados, viúvas, viúvos, desquitadas, desquitados, que desejam viver no mundo de São Bento ou a espiritualidade beneditina.

Gostaria, de passagem, de esclarecer o seguinte: a oblação não deve ser considerada como uma vida monástica reduzida, isto é, diminuída, mas como uma vida cristã especial, peculiar, uma expressão particular da vida cristã. Não é, também, a oblação, um prêmio de consolação para aqueles que não puderam, por um motivo ou outro, ser monges ou monjas. Portanto, o oblato e a oblata não são monge ou monja frustrados; mas ser oblato ou oblata é responder a uma vocação, é assumir uma proposta do Senhor, um projeto espiritual de vida.

Independentemente de um leigo ou leiga ser oblato ou oblata, ele ou ela pode optar por uma espiritualidade beneditina.

Que seria uma espiritualidade beneditina? Seria explorar com mais fervor e pertinência aquilo que é um bem comum de toda a Igreja, de todo cristão. Que bem comum é esse? Podemos assim dizer: é a vivência profunda da Eucaristia, dos sacramentos, do louvor divino na Liturgia das Horas, que é a oração do Povo de Deus (Constituição Sacrossanctum Concilium – Vat.II); é a vivência orante da palavra de Deus, através da lectio divina; dos ensinamentos dos Santos Padres; enfim, o bem comum da Igreja está todo centrado na Liturgia- e esse bem comum é de todo o Povo de Deus.

Podemos definir, ainda, a espiritualidade beneditina, considerando os elementos evangélicos mais inculcados por São Bento, vividos no cotidiano. Esses elementos são: humildade, silêncio, obediência, oração, de modo particular a Liturgia das Horas e a lectio divina, o sentido pascal da vida (a pascalidade que envolve toda a vida cristã), a paz, a discrição, o trabalho, o cuidado com os doentes, a condenação da murmuração, a pontualidade, a hospitalidade, o amor para com os pobres, os peregrinos, os idosos e a crianças. Esses elementos globalmente considerados constituem o espírito beneditino.

Mesmo sem ser oblato ou oblata, qualquer leigo ou leiga pode aderir, sem mudar de estado de vida, a uma espiritualidade mais autenticamente cristã e essa inspiração pode advir da regra de São Bento, escrita para monges e oblatos há quinze séculos através de uma longa tradição monástica.

Vê-se aí como a Regra de São Bento é inculturada, adaptável no tempo e no espaço.

O Prólogo de Regra de São Bento é um grande manual de espiritualidade liberadora.

Começa com um convite, uma abertura para “quem quer que seja”. Esse convite pode atrair uma pessoa para o mosteiro, para a oblação ou para viver no mundo a vida cristã eclesial, autêntica, portanto.

Toda a Regra de São Bento tem uma parte pedagógica e ministra um ensinamento, isto é, uma série de princípios de vida espiritual. Os monges podem hoje encontrar uma nova pedagogia como o fazem, conforme a cultura, e São Bento é muito aberto par isso. O código penitencial, por exemplo, já foi deixado de lado. Muitos pontos disciplinares podem ser mudados, mas não se pode alterar o ensino espiritual de São Bento, que é perene na Igreja. Está claro, pois, que em relação àqueles que desejam viver a espiritualidade beneditina no mundo, a pedagogia da Regra não é a mesma. Quanto aos princípios, qualquer leigo pode vivê-los.

Quando pensamos nos problemas do mundo, da América Latina e do Brasil, problemas seríssimos de injustiça social, de mudança de cultura, de desafio a uma modernidade que está aí, perguntamos: qual a resposta de evangelização que devemos dar para construir a esperança na cidade? Penso que a Regra de São Bento poderá nos ajudar quando focaliza quatro pontos fundamentais para uma vivência cristã libertadora, São eles:

1- CONVERSAÇÃO OU CONVERSÃO DOS COSTUMES

2- PAX BENEDITINA

3- ORA ET LABORA (REZA E TRABALHA)

4- VIDA COMUNITÁRIA

______Continua na próxima quarta-feira.

(Fonte: livro A Regra de São Bento Aplicada à Vida de seus Oblatos e Oblatas, Ivone Leite de Faria, Preâmbulo, Edições Subiaco 2ª edição/2009, pp. 19-22)