Semana Santa

AS PROFECIAS DA PAIXÃO

AS PROFECIAS DA PAIXÃO

Vejamos Jesus, silencioso, recolhido, modesto, no meio da multidão exaltada … Ele parece escutar a voz dos profetas, que predisseram os seus sofrimentos.

Querido Jesus, sirvam estas profecias para estimular-me na pontualidade em cumprir tudo o que vós pedis de mim.

I

O Evangelho continua (Jo 13, 31):

Para se cumprir a palavra que Jesus dissera, significando de que modo havia de morrer (Jo 18, 32).

II

A realização das profecias, meu Jesus, é uma das grandes provas da vossa divindade, e de vossa missão de salvador do mundo.

As principais circunstâncias da paixão foram profetizadas com uma clareza que não deixam subsistir a mínima dúvida, e foram cumpridas com uma pontualidade matemática.

Eis por que vós quereis, nesta hora de sofrimento, lembrar mais uma vez que tudo isso acontece, conforme foi predito pelos profetas (1Cor 1, 23).

A vossa paixão, que é o escândalo dos judeus e dos incrédulos, é, entretanto o que mais devia obrigá-los a crer em vós, porque entre todos os sucessos da vossa vida, nenhum há, nem mais claro, nem mais repetidamente anunciado.

O profeta Isaías, sobretudo, é tão claro e tão formal, que chegou quase a escrever a paixão como se tivesse sido testemunha ocular.

A cada instante, vós lembais estas profecias e indicais que estão se realizando em vossa pessoa.

Diante dos maus tratos, calúnias e acusações com que vos cercam sem que digais uma única palavra para desculpar-vos, o evangelista, com divina simplicidade, faz notar que tudo isso devia acontecer porque estava escrito.

Pouco antes, de fato, vós tínheis dito que serieis crucificado.

Como Moisés levantou no deserto a serpente, assim lambem importa que seja levantado o Filho do homem (Jo 3, 14).

E eu quando for levantado da terra atrairei tudo a mim. Dizia isto, para designar de que morte havia de morrer (Jo 12, 32).

E mais claramente ainda, vós dissestes um dia, subindo a Jerusalém: O Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas e o condenarão à morte; e o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado (Mt 20, 17).

Logo antes de começar a vossa dolorosa paixão dissestes: Vós sabeis que daqui a dois dias será celebrada a Páscoa, e o Filho do homem será entregue para ser crucificado (Mt 26, 2).

A vossa condenação à morte de cruz está, pois, claramente indicada, profetizada. Ora, tal pena, não podendo ser infligida pelos judeus, mas pelos pagãos ou romanos, cujo representante em Jerusalém era Pilatos, necessário era que fosseis remetido a Pilatos.

Não somente foram profetizadas as grandes linhas da vossa morte, mas ainda todos os pormenores dos suplícios que vos eram reservados.

Falaram contra mim, vos fez dizer o salmista, com línguas misteriosas, por toda a parte me atacaram com seus discursos cheios de ódio e me fizeram guerra (Sl 58, 3).

Levantaram contra mim testemunhas iníquas, mas a iniquidade mentiu a si mesma (Sl 26, 12).

Aguçaram a língua como dardos, para ferirem o justo na obscuridade, espreitaram cuidadosamente a sua vida.

Todos os seus esforços foram estereis.

As chagas que lhe fizeram parecem picadas produzidas por flechas de meninos; as más línguas cansaram-se e revoltaram-se depois contra eles mesmos (Sl 63, 4,5,7,8,9).

Abandonarei o meu corpo a quem me feriu e meu rosto a quem me arrancou a barba. Não desviei o rosto dos insultos, nem dos escarros (Is 50,6).

Porquanto me rodearam muitos cães; uma turma de malignos me sitiou (Sl 31, 17) .

Reuniram-se os reis da terra e aliaram-se ás nações, e os príncipes contra o senhor e contra seu Cristo (Sl 2, 2).

Os insensatos escarneciam-me, e quando os deixei, as suas línguas despedaçaram-me (Job 29, 18).

Os que desejavam perder-me, diziam futilidades e mentiras, procurando somente fazer-me cair em seus laços.

Mas eu parecia surdo e nada ouvir, e guardava silêncio, como um mudo.

Era como um homem que não ouve, nem tem réplica alguma em sua boca (Sl 37, 14-15).

A quem me assemelhastes? A quem me comparastes? A quem me igualastes vós?

Ora, recordai-vos de quem eu sou, e ficareis inteiramente confundidos.

Ó vós, que me maltratastes, ponde as mãos em vossa consciência, e conhecereis que sou eu e que não há outro além de mim (Is 36, 5, 8-9).

III

Que contraste, ó meu Deus!

Enquanto os chefes do povo e a população amotinada gritam e vociferam, pedindo a vossa morte, vós ficais calmo e silencioso, e nenhum traço de aborrecimento se traduz em vossa fisionomia, como nenhum gesto escapa de vossas mãos.

Pareceis alheio ao que vos cerca . Pareceis escutar as vozes dos profetas que vos recitam, um por um, os horríveis tormentos que vos esperam, e após cada profecia vós repetis a palavra do Gethsêmani: Meu Pai, faça-se a tua vontade! (Mt 26, 42).

O vosso Pai assim o quer, vós também o quereis!

Oh! se eu soubesse adquirir esta suave conformidade com vossa vontade, como a minha vida seria mais calma e mais fecunda! …

Nada acontece sem a vontade divina. Vós nos dirigis e sustentais; porque, pois, viver na perturbação?

Desde que eu cumpra o meu dever, é o bastante … vós não faltareis nunca, nem à vossa palavra, nem à vossa misericórdia.

Nós também temos o nosso caminho a percorrer… talvez o nosso pretório e até o nosso Calvário. Pouco importa… Escutemos a voz profética de Jesus: Ela nos avisará de tudo e nos sustentará em toda a parte.

Ó Mãe querida, eu sinto que me falta por demais esta suave entrega nas mãos de Deus. Alcançai-me a graça de ver em tudo a vontade divina e a força de cumpri-la sempre generosamente.

Desde hoje, quero fazer uns exercícios deste santo abandono, aceitando com calma o que me ocorrer de desagradável e de penoso.

(Fonte: in Contemplações Evangélicas Doutrinais e Morais sobre a Paixão de N. S. Jesus Cristo para Uso das Almas Sacerdotais e Religiosas, Pe. Júlio Maria, 2º Tomo, A Subida do Calvário, Editora Vozes, 1936, 141ª Contemplação, pp. 550-555, em formato PDF obtido do blog Alexandria Católica – Texto revisto e atualizado bem como suprimimos as citações em latim, indicando apenas a passagem da Escritura)

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