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DA ORAÇÃO

Algumas Instruções sobre a Oração, segundo Frei Leonardo Goffiné

DA ORAÇÃO

Algumas Instruções sobre a Oração, segundo Frei Leonardo Goffiné

«…Em verdade, em verdade, vos digo: Se pedirdes alguma coisa a meu Pai em meu nome, ele vo-lo dará. Até agora nada pedistes em meu nome: Pedi e receberei, para que vossa alegria seja completa…» (excerto da sequência do Evangelho do V Domingo depois da Páscoa – Jo 16, 23-30 – Rito Tradicional)

Que nos ensina este Evangelho?

Esta verdade consoladora: tudo alcançaremos de Deus se lhe pedirmos em nome de Jesus Cristo.

Por que manda que o roguemos?

Sabedor, embora, de quanto precisamos, exige que lhe exponhamos as nossa necessidades, para assim reconhecermos que todo bem dele depende; que em tudo e sempre carecemos seu auxílio, visto sermos só indigência e fraqueza; para que nele ponhamos nossa confiança, procurando conciliar-nos com as suas graças com disposições de seu agrado, e com bom uso de seus dons.

Ouvirá Deus sempre nossos pedidos?

Sim, quando peçamos em nome de Jesus Cristo, porque essa foi sua promessa.

Que significa pedir em nome de Jesus Cristo?

Vem a ser pedir o que Jesus Cristo nos ensinou que peçamos, ora com a palavra, ora com os exemplo; pedir do modo que nos ensinou e com inteira confiança nos merecimentos da sua paixão e morte, e na sua omnipotente intercessão junto a seu Pai, que nos dá todos os dons que recebemos.

Por esta razão a Igreja remata todas as nossas orações com estas palavras: Por Jesus Cristo Nosso Senhor.

Que nos ensina Jesus Cristo que peçamos?

Devemos pedir primeiro que tudo se destine à manifestação da glória de Deus, e o acréscimo do seu reino; as graças necessárias à salvação, e todos os bens espirituais que nos vêm dos merecimentos de Cristo Senhor Nosso.

Podemos pedir também bens temporais, mas sempre de modo condicional, como pediu Nosso Salvador no Horto, que se lhe poupasse o cálix de sua paixão.

De que modo quer Nosso Senhor que oremos?

1º. Com a devida preparação, afastando os pensamentos terrenos, pondo-nos na presença de Deus, pedindo-lhe a graça de bem orar, evitando tudo que possa nos distrair;

2º. Com humildade que tudo a Deus refere, de dele tudo espera (Is 1, 21); com ela retirou-se o publicano justificado;

3º. Orar com a mente, no coração, não só com os lábios. Deus é espírito, quer ser servido em espírito (S. João 4, 24);

4º. Com fé viva e firme esperança na infinita bondade e promessas de Deus. Assim orou aquela mulher enferma há doze anos, e ficou sã (São Lucas 8, 43);

5º. Com perfeita resignação à vontade divina, que sabe o que nos é preciso.

6º. Com todo respeito e compostura exterior.

7º. Com perseverança (S. Mateus 9, 21). Dezoito anos levou Sta. Mônica pedindo a conversão de Sto. Agostinho.

8º. Em estado de graça ou com o sincero propósito de recuperá-la quem a perdeu, e de tomar quanto antes o meios para tal.

Que significam as cerimônias e atitudes diversa que costumamos orar?

Serve tudo isso para excitar em nós as disposições que acabamos de falar, inspirar-nos bons pensamentos e manifestar o que se dá com nossa alma, para edificação dos demais.

Orando em voz alta, por exemplo, proclamamos a majestade de Deus; descobrindo-nos, pondo as mãos ou erguendo-as, ajoelhando, ou prostrando-nos, manifestamos nossa humildade perante Deus, quais gotas d’água em vista do Oceano; com o sinal da cruz, lembramos e confessamos Jesus Cristo crucificado; traçando-o na testa, na boca, no coração, com as respectivas palavras, declaramos que, por palavras e obras e de coração, pretendemos honrar Cristo Senhor Nosso, e glorificar ao Deus uno em três pessoas, como autor de todas as graças que recebemos no curso de nossa vida.

Já existiam algumas destas cerimônias antes da vinda de Cristo, que também as observou; outras foram instituídas pelos Apóstolos e seus sucessores. Não deve, pois, o católico omiti-las, muito menos desprezá-las sob o pretexto que adora Deus em espírito!

A Deus pertence o espírito e o corpo também; imitemos a Jesus Cristo, nosso Mestre; e quem saberá, sem estes sinais, se respeitamos a Deus como devemos?

Como é que nem sempre é ouvida a nossa oração?

1º. Porque, muitas vezes, antes nocivo que vantajoso nos seria o que pedimos, e então Deus nos trata como pais sensatos aos filhos queridos, que lhes tiram, ainda que chorem, o que lhes pode fazer mal. 2º. Porque apraz a Deus experimentar-nos a paciência e constância. 3º. Porque não está nossa oração acompanhada das necessárias qualidades.

Quando devemos orar?

Sempre (S. Lucas 18, 1), e assim fazemos se forem nossas ações movidas de boa intenção, e se conservarmos nosso coração unido a Deus por meio de frequentes jaculatórias e amorosos afetos.

Há tempos, porém, determinados para oração, como 1º pela manhã, ao meio dia, à tarde, antes e depois das refeições, quando dão as horas. Não falta tempo a quem, de verdade, deseja cumprir este dever, basta experimentar. E não dará compensação bastante a bênção de Deus? Não será razão que muitas vezes pensemos em Deus, que sempre se lembra de nós? 2º No ofício divino, e, quando lá não possamos acudir, devemos orar em casa, na mesma hora, enquanto possível for. 3º Quando acontece alguma tentação (S. Mateus 6, 13). 4º Quando recebemos algum sacramento. 5º Quando empreendemos alguma coisa de momento. 6º Na hora da morte.

Qual é a oração mais excelente?

A Oração Dominical ensinada pelo próprio Cristo Senhor Nosso, e que encerra tudo que podemos pedir a Deus.

Por que chamamos a Deus Pai nosso?

Porque deu-nos a vida e no-la conserva, e que por sua graça somos filhos seus e herdeiros de seu reino.

Por que dizemos Pai nosso e não meu Pai?

Para lembrar-nos que somos irmãos e devemos orar uns pelos outros.

Por que dizemos: que estais nos céus, se Deus está em toda parte?

Por que, ainda que Deus esteja em toda parte, consideramos o Céu como o trono de sua glória, e ao Céu devemos aspirar.

Que pedimos dizendo: santificado seja vosso nome.

Que seja Deus conhecido, servido e glorificado por todos os homens.

Bastará pedirmos a Deus que seja sem nome santificado?

Não, devemos também santificá-lo com vida santa e levar os outros a que assim também façam, da melhor forma que pudermos.

Que pedimos com estas palavras: venha a nós o vosso reino?

Rogamos a Deus que reine presentemente em nós com a graça, e nos faça um dia reinar, com Ele na glória.

Que pedimos dizendo: seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu?

Que cumpram os homens aqui na terra a vontade divina, como lá no céu a cumprem os Anjos e Bem-aventurados.

Que é fazer a vontade de Deus?

Sujeitar-nos à sua lei e respeitar a ordem da sua Providência.

Em que consiste a submissão à Providência?

Em sofrer com paciência as adversidades e aflições.

Como devemos fazer (bom) uso das adversidades e aflições?

Em espírito de resignação, de humildade e penitência.

Que pedimos com estas palavras: o pão nosso de cada dia dai-nos hoje?

Quanto nos é preciso no presente dia para o corpo e alma.

De que precisamos para a vida da alma?

Da graça de Deus, da divina palavra, e da Sagrada Eucaristia.

E para a vida do corpo?

Roupa e alimento.

Que pedem estas palavras: perdoai as nossas dívidas?

Pedimos a Deus que nos dê o perdão dos nossos pecados, e a graça da sincera penitência. Vem a ser, pois, duas coisas que pedimos: o perdão, a penitência que no-lo vale. São inseparáveis o perdão e a penitência, porquanto Deus, por bom que seja, não pode perdoar nossos pecados sem o necessário arrependimento e o bom propósito da emenda. Por que assim? Porque Deus, infinitamente perfeito como é, detesta necessariamente o pecado onde quer que o encontre. Ora, reina este no coração que não se arrepende e nele persevera. E eis como ao pedir perdão dos nossos pecados, rogamos a graça da penitência sincera, indispensável para alcançá-lo, a graça da verdadeira conversão, o bom propósito, uma franca e leal confissão.

Por que acrescentamos: assim como nós perdoamos aos nossos devedores?

Porque não há como esperarmos o perdão de Deus, se não perdoarmos a quem nos ofender.

Deus então não perdoa aos que não querem perdoar?

Nunca, e estes proferem a própria sentença ao rezarem o Pai Nosso.

Que pedimos dizendo: não nos deixeis cair em tentação?

Que Deus nos livre delas ou nos alcance a graça de vencê-las.

Que é tentação?

Um impulso interior que nos leva ao mal.

Que fazer para não ser tentado?

Fugir da ociosidade e outras ocasiões de pecado, que são o que provoca as tentações.

Que deve fazer quem está sofrendo tentação?

Excitar-se ao pesar do mal feito, fazer penitência e renovar o bom propósito para o futuro.

Que pedimos com estas palavras: livrai-nos do mal?

Rogamos a Deus nos livre de todos os males deste e do outro mundo, isto é, do pecado e dos sofrimentos do corpo e da alma, advindos do pecado. Assim seja.

(Fonte: livro Manual do Christão – Goffiné, Frei Leonardo Goiffiné, Colégio da Imaculada Conceição, Botafogo/RJ, 10ª edição/1925, Instruções da Quinta Dominga depois da Páscoa, pp. 534-540 – Texto revisto e atualizado e citação da Sagrada escritura acrescida)

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