DOMINGO DE RAMOS – MISTÉRIO DO DIA
PREPARAÇÃO. Nas vésperas de sua Paixão, Jesus prepara-se um triunfo muito instrutivo para nós. Consideremos: 1° A oração que recebe; 2° o ódio que lhe votam os partidários do século. – Como fruto destas considerações, decidir-nos-emos seriamente a imitar a humildade e a mansidão de Jesus, de acordo com o seu desejo e com a graça que ele nos concede. “Aprendei de mim, diz-nos ele, que sou manso e humilde de coração”. Discite a me quia mitis sum et humilis corde (Mt 11, 29).
1º Triunfo e virtudes do Salvador
Sabendo que se aproximava o tempo da sua morte, em que devia ser crucificado em Jerusalém, Jesus dirigiu-se a essa cidade. À sua entrada, o povo corre em massa ao seu encontro. Uns estendem as vestes pelo caminho em que devia passar; outros o atapetam de ramos de árvores em sua honra. Todos aclamam-no, chamam-no Filho de Davi e cantam: “Hosana àquele que vem em nome do Senhor!” Vamos também nós ao encontro do divino triunfador para lhe dizer com amor: “Sede bendito, ó Unigênito de Deus, por terdes vindo a este mundo! Sem vós, estaríamos perdidos para sempre. Sede bendito, principalmente quando em nós entrais na santa comunhão para cumular-nos dos vossos favores”.
“Dizei à filha de Sião, exclamava o profeta, eis que vem o vosso Rei; dirige-se a vós cheio de doçura, sentado sobre uma jumenta e sobre um jumentinho” (Mt 21, 5). Que outra coisa significa a jumenta senão o povo judaico, submisso ao jugo da lei? e o jumentinho senão os gentios livres de todo o freio e constrangimento? Essa cavalgadura convinha sem dúvida a um príncipe, cujo berço foi um presépio, e que, nas suas pregações, nos dizia a todos: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. Ó humildade de Jesus, até no vosso triunfo confundis o nosso orgulho, ensinando-nos a virtude que, segundo Santo Agostinho, é o começo, a continuação e o auge da perfeição e sem a qual não há repouso para a alma, nem submissão, nem mansidão, nem verdadeira caridade.
Jesus chora sobre a ingrata Jerusalém: “Ah! se ao menos neste dia, exclama ele, conhecesses o que te pode trazer a paz; mas estes mistérios estão encobertos a teus olhos” (Lc 19, 42). Previa as desgraças que essa cidade culpada atrairia sobre si, por seus crimes, especialmente pelo deicídio. – Ah! quantas vezes Jesus já não chorou sobre nós, ao ver-nos resistir às suas graças e preferir os nossos caprichos à sua santa vontade! Quando o consolaremos por nosso fervor, arrependimento e humilde docilidade? Peçamos essas disposições ao mais amável dos mestres.
Jesus, doce e humilde de coração! não permitais que eu inutilize tantas luzes e inspirações que me dais. Concedei-me a coragem de vencer as resistências do meu natural altivo, para submeter-me à vossa direção. Tomo a resolução de meditar, durante a Semana Santa, os vossos sofrimentos e ignominias, para haurir vivos sentimentos de contrição, aniquilamento de mim mesmo e amor sincero para convosco, meu Redentor, e para com as almas resgatadas por vossas dores e opróbrios.
2º O mundo é o inimigo de Jesus
Quem diria que, após demonstrações tão entusiastas, Jesus, o mais manso dos príncipes, se tornaria tão depressa o objeto do ódio e do desprezo dos seus vassalos? Hoje correm os judeus ao seu encontro e exaltam até às nuvens o seu nome e os seus louvores. Dentro de poucos dias mandarão soldados para o prender, atar e cobrir de golpes e injúrias. Agora cantam: “Hosana ao Filho de Davi”. Dentro em breve preferir-lhe-ão Barrabás e gritarão: “Crucificai-o, crucificai-o”. Essa é a inconstância do mundo! Maldiz hoje o que exaltou ontem.
Antes de terminar o dia, aliás tão belo, o pacífico triunfador estava já esquecido por aqueles que tão solenemente festejaram a sua chegada. Após a sua entrada em Jerusalém, Jesus passou todo o dia a pregar, a curar os doentes, a espalhar benefícios ao redor de si. Ao cair da noite, entretanto, quem o creria? – Ninguém na cidade lhe oferecia pousada. Ó ingratidão! – Mas a minha será menor, Jesus, não será pior ainda quando, ao entrardes em meu coração pela santa comunhão, eu vos esqueço, vos menosprezo ou só com negligência faço a ação de graças? Ou recaio logo nos meus hábitos de impaciência, vaidade, sensualidade e distrações voluntárias na oração? …
Enquanto Jesus beneficia os judeus, multiplicando os seus milagres, os fariseus e os príncipes dos sacerdotes dizem entre si: “Este homem opera muitos prodígios; se o deixarmos em paz, todos crerão nele” (Jo 11, 47). Assim os benefícios, a santidade de Jesus, excitam o ódio dos maus. Exprobram-lhe o que constitui a sua glória, o que deveria levá-los a seu amor. Ó mundo injusto! Quem pode esforçar-se por te agradar? – Nesta acusação que faço do mundo, condeno-me a mim mesmo. Quantas vezes tenho expulsado a Jesus do meu coração, depois de tê-lo recebido! E que outra coisa tenho eu feito em minha vida, senão pagar-lhe o bem com o mal, o amor com a injúria?
Redentor meu, arrependo-me de vos haver ofendido tantas vezes, a vós que tanto me tendes amado. Arrependo-me e quisera morrer de dor. Pela intercessão de vossa divina Mãe, dai-me a graça de vos servir doravante sem inconstância. – Inspirai ao meu coração um reconhecimento habitual dos vossos benefícios. – Aumentai em mim o amor que vos devo e fazei que ele me leve a sacrificar tudo para vos obedecer e trabalhar para a vossa glória.
(Fonte: in Meditações Para Todos os Dias do Ano, R. P. Bronchain, C.SS.R, traduzidas da 13ª edição francesa pelo R. P. Oscar Chagas, C. SS.R., Tomo Primeiro, Editora Vozes, 1940, pp. 250-253, obra em formato PDF obtida do blog Alexandria Católica. Texto revisto, atualizado e com destaques acrescidos)