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FESTA DE CORPUS CHRISTI

FESTA DE CORPUS CHRISTI

O DEUS ESCONDIDO

O Evangelho nos faz meditar hoje a promessa solene da Sagrada Eucaristia, cuja instituição presenciamos na Quinta-feira Santa, à noite.

O dia próprio desta solenidade é a Quinta-feira Santa, porém, nesse quadro, todo de luto e tristeza, seria quase inconveniente uma explosão de alegria, e de triunfo, que são os característicos próprios do grande Sacramento de amor, última lembrança de um Pai extremoso antes de sacrificar a sua vida pela salvação dos homens.

A Igreja escolheu este dia no fim das solenidades da Páscoa para manifestar a sua gratidão pela instituição deste Sacramento e exaltar publicamente a Jesus Sacramentado.

Examinemos a glória e a exaltação devida ao Santíssimo Sacramento, lembrando-nos das duas partes de que se compõe: Ele é ao mesmo tempo grande e escondido. É preciso, pois:

I – Honrar o que é grande nele.

II – Revelar o que está escondido.

I – A GRANDEZA DA EUCARISTIA

A grandeza da Sagrada Eucaristia está admiravelmente expressa no Evangelho de hoje [Jo. 6, 56-59].

1 – É a carne e o sangue do Salvador;

2 – É o Sacramento de união com Deus;

3 – É a participação à vida divina de Jesus Cristo;

4 – É o pão da vida, descido do céu;

5 – É o maná da imortalidade.

Estas cinco qualidades são indicadas pelas próprias palavras de Jesus Cristo.

Que objeto mais sublime do nosso culto e da nossa adoração que o próprio Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, fisicamente imolado no Calvário e misticamente imolado em cima dos nossos Altares.

Há várias uniões entre Deus e o homem:

A união hipostática, é a união da natureza divina à natureza humana, numa única pessoa divina. Esta união é própria a Jesus Cristo, e não pode ser contraída pelos homens.

A união moral da amizade que liga dois seres pela afeição e a dedicação; é a união que existe entre os pais e os filhos, e entre amigos.

A união substancial, pela qual dois seres se unem, se confundem, ao ponto de serem um único e mesmo princípio de atividade. É a que existe entre o nosso corpo e a nossa alma.

A união de natureza pela qual uma natureza é transformada por uma natureza superior, comunicando-lhe uma ação de ordem superior, que não tem por si mesmo. É a união entre Deus e os homens, pela graça; sendo esta, como diz São Pedro, uma participação à natureza divina – (2 Pe. 1, 4).

O homem tem apenas uma vida humana. – Deus possui uma vida divina, eterna. Em sua bondade infinita Ele quer comunicá-la a seus filhos para aproximá-los de si e prepará-los a partilharem a felicidade eterna, contemplando-o face a face, na clara visão da glória.

Tudo o que vive precisa de alimento.

A nossa alma tem uma vida espiritual, da qual só Deus pode ser o alimento; eis porque Ele se proclama: o pão descido do céu.

O maná dos hebreus era um alimento milagroso, que tomava o gosto, que cada um apetecia.

Era preciso renovar a provisão cada manhã, pois ao levantar do sol, o maná caído do céu, dissolvia-se num instante.

O maná do cristão é a Eucaristia, que dá a cada um a fôrça e a graça de que precisa; para uns é luz, para outros é consolação, para outros ainda é generosidade.

E este maná devia, o quanto possível, ser recebido cada dia, antes que o vento das tentações se levantasse.

Eis a grandeza da Eucaristia! Grandeza escondida, que é preciso realçar, exaltar, manifestar aos homens.

E este é o fim da festa do Corpo de Cristo: exaltar o que é grande mostrar pelas manifestações religiosas, entusiastas e solenes, o que há de grande neste Sacramento de amor, tão pequeno em suas aparências e tão grande em seu objeto e em seus efeitos.

II – A PEQUENEZ DA EUCARISTIA

Há uma outra parte na Eucaristia, que a festa de hoje procura manifestar: é sua pequenez.

Notemos bem que a Eucaristia é divinamente grande em seus efeitos, mas humanamente pequena em suas aparências.

Uma migalha de pão, um pouco de vinho, um sacerdote, que balbucia mas palavras sobre este pão e este vinho, e eis que, embora as aparências permaneçam, a substância deste pão e deste vinho é, totalmente mudada na substância do corpo e sangue de Jesus Cristo.

Após a consagração, olho o altar, e vejo permanecer o que os meus olhos ali perceberam antes: uma Hóstia branca, insensível, sem movimento e sem vida.

E sob estas aparências mortas, sem se ouvir nem uma pulsação do coração, nem um leve sussurro de respiração, palpita, entretanto, uma vida divina, uma vida intensa, à imanência, de expansão e de atividade universal.

Neste pequeno espaço da Hóstia está reunido o céu inteiro. É daí, deste silêncio de morte, que saem em jarros luminosos, a atividade, a fecundidade de todas as criaturas.

Uma pequena Hóstia está aí repousada sobre alvos paninhos, em cima do altar; e ao pé do altar, o sacerdote, se prostra em adoração profunda.

Almas virginais choram e beijam pés invisíveis. Almas santas lançam-se em braços abertos, que os olhos não enxergam e apertam o coração contra um Coração ardente, cujas pulsações não são percebidas pelos ouvidos.

Os anjos do céu contemplam a divindade, em todo o seu esplendor, numa visão face a face, tão deslumbrante, que olhos humanos são incapazes de suportar enquanto nós enxergamos apenas uma Hóstia branca, insensível e fria.

A realidade é a glória, a majestade e o poder do trono do Altíssimo. As aparências são um pouco de pão e vinho.

Que contraste entre a realidade e as aparências!

Que Abismo entre a grandeza real e a pequenez aparente!

É preciso mani(estar esta pequenez! É preciso tirar do esconderijo, em que se conserva, esta grandeza divina, e mostrar ao mundo, que a grandeza na humildade, é uma grandeza duplicada.

Eis porque, neste dia, nas pobres aldeias, como nas cidades cosmopolitas, o Santíssimo Sacramento é levado em triunfo, é aclamado, como um conquistador.

É o triunfo da Eucaristia, ou melhor, o triunfo da humildade!

Os dois extremos encontram-se ali: a pequenez das aparências e a grandeza do triunfo.

– Crês tu que Cristo está nesta pequena Hóstia? Perguntou certo dia um protestante a um católico.

– Creio, respondeu este último, porque a fé me certifica que está presente; mas não tivesse eu a fé, acreditaria ainda guiado somente pelo bom senso comum, pois julgaria impossível que o mundo em peso, o mundo intelectual, o mundo virtuoso, o mundo que pensa, possa prostrar-se diante de uma Hóstia tão pequena, para adorá-la, como sendo aparências de uma substância divina.

Estes dois extremos não se explicam humanamente… devem explicar-se divinamente: e tal explicação é a fé na palavra de Deus.

III – CONCLUSÃO

Eis a razão de ser da festa de hoje.

No meio de hinos de alegria, de música harmoniosa, de luzes e flores, o sacerdote leva, publicamente, a Hóstia Sagrada através das ruas e avenidas das grandes cidades, como a leva através das veredas e campinas das aldeias.

É o triunfo de Jesus Eucaristia, mostrando a sua grandeza na humildade.

Tal é, aliás, o desejo expresso do divino Salvador. Ele, sempre tão pobre e tão humilde, durante a sua vida mortal, exigiu para a instituição da divina Eucaristia uma sala ricamente ornada (Lc. 22, 12).

Para morar se contentava com uma humilde ermida, mas, para a sua Eucaristia, quer um edifício, que se impõe pela grandeza e magnificência. Por que esta exigência ?

É que este lugar, para sempre célebre, deve ensinar a todos os séculos as honras devidas à Eucaristia.

O culto exterior lhe é devido, como manifestação de sua grandeza e revelação da sua pequenez. Vere tu es Deus absconditus. (Is. 45, 15)

(Fonte: in, O Evangelho das Festas Litúrgicas e Dos Santos Mais Populares, Pe. Júlio Maria Lombaerd, Editora O Lutador, 2ª edição/1952, 40ª Instrução, pp. 223-227 – Texto revisto e atualizado e destaques acrescidos)

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