CatolicismoRito Tradicional

HOMILIA DE SÃO GREGÓRIO MAGNO

HOMILIA DE SÃO GREGÓRIO MAGNO

(Hom. 39, no Evang. 1, 3 e 7)

IX DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTE

A ruína predita pelo Senhor, quando chorou sobre Jerusalém é a que foi perpetrada pelos chefes romanos Vespasiano e Tito. É fato conhecido pelos que leram a destruição da cidade. Eram romanos os chefes anunciados por estas palavras: Sim, dias virão sobre ti, em que teus inimigos te cercarão de trincheiras, te apertarão de toda parte; te prostrarão por terra, a ti e aos filhos que abrigas. Quanto às palavras: Não deixarão em ti pedra sobre pedra (Lc 19, 43-44), sua realização é atestada pelo próprio deslocamento da cidade, que hoje se encontra num lugar situado outrora fora do recinto, lá onde o Senhor foi crucificado, e a antiga Jerusalém foi completamente destruída, como afirma o Evangelho.

Jesus explica por qual falta a ela foi infligido o castigo da destruição: Por não teres reconhecido o tempo de tua visitação. O Criador se dignara visitar a cidade pelo mistério da Encarnação, mas ela não se preocupou em retribuir-lhe respeito e amor. O Redentor chorou a ruína da pérfida cidade, mesmo quando esta ignorava o que um dia lhe haveria de acontecer, com lágrimas nos olhos, o Senhor oportunamente lhe diz: Porque não conheceste … (Lc 19, 44) Sem dúvida chorarias, mas porque ignoras a desgraça iminente, exultas.

Assim procedeu Jesus ao anunciar a destruição da cidade. Age da mesma forma em relação aos eleitos, quando vê certos abandonarem a vida pura por terem contraídas hábitos condenáveis. Chora sobre aqueles que ignoram o motivo destas lágrimas, porque, segundo Salomão: Alegram-se com o mal que fazem e põem sua glória em ações detestáveis. (Prov. 2, 14) Se soubessem de sua condenação iminente, unir-se-iam às lágrimas dos eleitos, para chorar sobre si. Com muita propriedade se aplica a tais almas no caminho da perdição esta sentença: Oh! se compreendesses o que pode trazer-te a paz! Mas agora tudo está oculta os teus olhos. (Lc 19, 42)

A alma perversa, que se alegra com prazeres efêmeros, encontra a paz nos bens do mundo. Enquanto os bens da terra lhe sorriem, enquanto as honra as arrebatam, enquantos os prazeres da carne a inebriam, enquanto evita pensar nos terríveis castigos futuros, de posse dos bens temporais, vive tranquila. Um dia se afligirá, quando os justos se alegrarão, e tudo o que a inebriou na terra se tornará em amargura; recriminará por não ter evitado a condenação, por ter fechado os olhos do coração para não ver os males vindouros. A alma perversa, alucinada pelos bens caducos da terra, mergulhada nas delícias da carne, fecha os olhos para os males da vida futura; recusa o olhar para a vida eterna, porque poderia perturbar as delícias do momento.

Entregar-se aos encantos da vida presente não é marchar para o fogo dos olhos vendados? Aprendemos as lições da verdade e consideremos sem cessar com temor os males a que estamos expostos na eternidade, segundo a palavra do sábio: Em todas as tuas ações, recorda-te dos novíssimos e nunca pecarás. (Ecl 7, 40)

(Fonte: livro Ofício Marial Lecionário, Editora FTD S/A, São Paulo/1966, pp. 522-523 – Texto revisto e atualizado)

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