MAIO, MÊS DE MARIA

MAIO, MÊS DE MARIA

Um Convite

MAIO, MÊS DE MARIA

Um Convite

Ave Maria! eu vos saúdo, Maria! É a palavra que está hoje em todos os lábios, o grito que escapa jubiloso de todas as almas cristãs; nas basílicas das grandes cidades como nas igrejas mais humildes do interior; na prece em comum, no seio da família como na intimidade da oração privada, é sempre a mesma palavra terna e confiante: Ave Maria!

Nesta palavra abençoada, há um sentimento feito de amor e admiração. Este sentimento reveste todas as formas, exprime-se em todas as línguas. Vós o encontrais na eloquência dos panegiristas, nas estrofes vibrantes dos cânticos, no brilho das flores, no fulgor das luzes e na pompa majestosa das cerimônias religiosas. Dir-se-ia que a terra em peso quer prestar a Maria homenagens iguais, ou antes parece que a mesma brisa bafejou todas as almas, despertando em todas o mesmo estremecimento afetuoso.

Será necessário, porventura procurar as razões deste entusiasmo? Acaso precisaremos justificar-nos a nós mesmos na expressão destes sentimentos de amor ardente? Não, absolutamente. É uma coisa natural, espontânea. É um arrebatamento, um impulso irresistível, que traz consigo a própria justificação. Não se pergunta á ave porque voa, à folha porque cicia com o sopro do vento; não se pergunta à flor porque desabrocha sob os cálidos beijos do sol, nem à criança porque corresponde sorrindo aos sorrisos da mãe ou adormece no regaço onde tantas vezes o amor a embalou.

Deus não faz brotar nos corações um amor que não tivesse motivos, e cada aspiração de nossa alma corresponde a uma necessidade. É preciso pois admitir que o culto tão entusiasta que prestamos a Maria tem razões profundamente teológicas e deita raízes no próprio pensamento de Deus. Essa verdade ha de aparecer como conclusão lógica no fim das praticas desta estação do mês mariano; vamos, entretanto, desde hoje, entrever e saudar tão consoladora verdade.

Na origem do Cristianismo, na base desta grande transformação religiosa da humanidade, acha-se uma mulher cuja presença e missão são indispensáveis nos desígnios de Deus: Maria! Na linguagem simbólica dos profetas que a vaticinaram, é a tal terra árida de onde brotará uma planta maravilhosa; é a vara de Jessé na qual desabrocha a flor mística; é a nuvem que ha de, um dia, transformar-se em orvalho benéfico. Mas não se arranca do solo que a alimenta a planta, nem a flor se tira do ramo que a ampara; e quando em nossos campos, respiramos as auras embalsamadas da manhã, logo cogitamos na poeira úmida do orvalho que satura e refresca a doce aragem. Assim terá Maria, seu lugar ao lado de Jesus; com Ele, palmilhará o mesmo caminho e seguirá o mesmo trilho. Quanto for nela, simples criatura, Maria realizará os mesmos trabalhos. Inseparável de seu divino Filho, verá projetarem-se sobre a sua fronte virginal imaculada os raios de gloria de Cristo Redentor; e, como Ele, cingindo diadema imortal, Maria participará eternamente do culto de amor que a Jesus consagram os seculos reconhecidos.

A humanidade de Nosso Senhor é obra prima de sublimidade e de grandeza, obra prima do supremo poder. Maria será a obra prima da graça suprema. Se a vida de Jesus é uma maravilhosa epopeia com o desfecho no drama do Calvário, a vida de Maria será um poema delicioso, repassado dos perfumes do céu. Em seu rosto suave descobrimos o encanto que Deus pôs na pureza dos anjos, o enlevo que nos atrai na inocência da virgem, a majestade que resplandece no papel santo da mãe, mas tudo isso enobrecido, transfigurado, sublimado e impregnado de eflúvios divinos que a terra nunca vira antes nem pode tornar a ver.

Existe, sem duvida, neste mundo a beleza das almas que gravitam para Deus e dele se vão aproximando pela perfeição sempre crescente de sua santidade; mas acima de todas estas virtudes, e caridades, e sacrifícios, e heroísmos, acima destes esplendores morais, ainda vejo pairar, imponente, glorioso, dominador, um vulto: Maria! Maria, providencial medianeira entre o Céu e a terra, dispensadora dos dons que santificam … Maria modelo perfeito de todas as virtudes da terra.

Quando comparamos a vida dos santos mais eminentes com a vida da Rainha do Céu, exclamamos: «Qual a alma que trouxe diante do trono do Altíssimo uma fé mais ardente, esperança mais firme, amor mais profundo e mais generoso? Qual a alma que concentrou em grau mais elevado como em foco mais intenso, estas sete chamas místicas que são os dons do Espírito Santo?» Por isso a Igreja, imitando os profetas, dá o arco-íris como símbolo de Maria, o arco-íris, faixa luminosa que após a tempestade se desenrola no céu, envolvendo-o com as sete cores em combinação harmoniosíssima.

Falando das grandezas e glórias de Maria, exclama São Bernardo: «Ó homem, vê e considera quanta sabedoria e bondade Deus pôs nos conselhos de sua Providência! Queria resgatar a humanidade, e então entregou à Bem-aventurada Virgem o preço desta Redenção. Depois, para nos ensinar a confiança que nela devemos depositar, determinou que toda a esperança e todas as graças de salvação nos viessem por aquela que foi enriquecida com todos os tesouros do Céu. Opulento jardim enclausurado, sem duvida; mas eis que sopram as auras do alto; passam de continuo, e tornam a passar essas fragrâncias incomparáveis que são as graças de salvação.»

Pois bem! Esta alma, vamos estudai-a na virginal estação do mês de Maria. Esta vida completa há de passar diante de nossos o olhares; vida, depois da de Jesus, mais maravilhosa, e também mais tocante, mais graciosa e mais rica de preciosos ensinos. Hoje mais do que nunca tal estudo será oportuno e salutar. A sociedade atual é indiferente ou cética. Cada dia que se vai parece querer arrebatar alguma cousa do sagrado patrimônio de fé que herdamos dos nossos antepassados. Muitos há que acreditam somente no poder do dinheiro, no gozo dos prazeres. Para eles, dir-se-ia que o Céu se afastou e se vai perdendo sempre mais nas profundezas incertas de um horizonte sem realidade. Quantos há que não sabem mais olhar para as alturas. Vemos corações amesquinhados, almas sem ideal que se assemelham às aves feridas, arrastando as azas, maculando-as no lodo do caminho. Deixamo-nos cativar pelas vulgaridades. O que muitos reclamam, já não são as alegrias do dever cumprido, senão emoções perturbadoras e febricitantes, oriundas da parte mais baixa da nossa misera humanidade. Esses, já se vê, pouco apreciam as cousas santas. Oxalá entendam a voz daquela justamente chamada Refugio dos pecadores!

Maria é um ideal, mas é ideal posto ao nosso alcance. Por delicado e fino que seja o modelo, certo é que foi traçado para nós. A muitas almas têm excitado, muitos entusiasmos inspirou, e só este culto de Maria explica heroísmos sem numero e até então desconhecidos.

É temeridade, sem dúvida, tecer-se aqui o elogio de uma vida que São Bernardo não podia celebrar condignamente; e, mais do que ninguém tem razão o autor, fazendo suas as palavras que um venerável religioso escreveu no cabeçalho de importante trabalho sobre a Santíssima Virgem: «Leitor, meu amigo, ficareis admirado ao verdes que depois de tantos espíritos peregrinos, de tantos e tão sábios escritos tive a ousadia de falar ainda de Nossa Senhora, como se eu pudesse dizer algo de novo, que dela e de vós merecesse benevolência. Mas, se há coisas que a única vez que se dizem, já são importunas, outras haverá que mil vezes repetidas sempre agradam e sempre mais arrebatam. Nossa Senhora é a Virgem Santíssima: não pode deixar de parecer e nova e bela.

É tranquilizadora ainda esta consideração: existe no coração humano uma força que pode suprir todas as deficiências; sentimento tão fecundo que muitas vezes têm inspirações geniais, tão poderoso que supera todas as dificuldades. Pois bem! Pode contar com este sentimento quem toma como lema o programa que o Bem-aventurado Padre Chanel, mártir da Oceania selou com o próprio sangue : “Amar e fazer amar a Maria!”»

Sim, ó Mãe nossa, amar-vos e fazer-vos amar: eis o nosso fim! Foi a nossa única glória no passado, hoje é a nossa única força e alento. Queremos desde já saudar-vos com um dos vossos mais eminentes panegiristas:

«Salve Maria, cheia de graça, mais santa que todos os santos, mais alta que os céus, mais gloriosa que os Querubins, mais honrada que os Serafins. Salve pomba imaculada que nos traz o ramo da oliveira após o diluvio. Pomba imaculada, nuncio de paz e salvação, em cujas azas irradia o resplendor do ouro, a luz do divino Espírito Santo! Salve, ó Paraíso deslumbrante e delicioso plantado no Oriente pela mão omnipotente e benfazeja de Deus para nos dar o lírio perfumoso e a rosa imortal, remédios contra a morte eterna da alma, contra o amargor do pecado que cometeram os desgraçados filhos de Eva. Salve, Paraíso onde floresce em plena luz a árvore maravilhosa cujos frutos levam ao ânimo que os assimila germens de imortalidade.»

NOTA: Neste marcador “Maio, Mês de Maria”, nossos seguidores e visitantes poderão acessar meditações diárias para o Mês de Nossa Senhora.

(Fonte: in Mez de Maria, Nova Coleção de Livros Clássicos por uma reunião de professores, Editora FTD, 1919, Dia da Abertura, pp. 3-8, em formato PDF, obtido do blog Alexandria Católica – Texto revisto e atualizado com subtítulo e destaques nossos)

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