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O Natal do Natal

O Natal do Natal

Era o dia 25 de Março quando Deus humanado foi concebido, por virtude do Espírito Santo, no caminho para a Gruta Virginal da Imaculada Maria de Nazaré. No seu seio brilhou uma Luz fulgurante e imensa, que despedindo alegres luminosidades pelo mundo-universo as enviou a todos os recém gerados. A cada um deles apareceu uma multidão de Anjos jucundos e jubilosos entoando Glórias e Aleluias com exultações celebrativas.

E de um modo só do Mistério conhecido anunciaram-lhes uma alegria desmedida, uma felicidade incomensurável: Foi concebido (nasceu no seio) o Salvador que o será para todos os concebidos, por nascer ou já nascidos. Ide depressa adorá-Lo; reconhecê-lo-eis porque sereis atraídos e o encontrareis na Gruta interior, a mais íntima e limpa de quantas houve ou haverá.

Uma multidão de miríades de miríades, de milhões de milhões, enfim, incontável, de recém concebidos viu-se num repente rodeando uma Santidade, coroada de estrelas, revestida de Sol, tendo a Lua sob os pés, de cujo seio brotava uma Luz inefável, mais brilhante que o sol, puríssima, simplicíssima, claríssima, cristalina, suave, pacífica, castíssima Levantou-se então daquela multidão de congregados um alto clamor, um brado de grande dor: ai de nós que somos indignos de entrar na Gruta, fomos manchados da culpa de nossos primeiros pais.

Então daquela Luz infinita esvoaçaram uns Serafins, a mais alta e nobre hierarquia angélica, duas asas alteavam-se sobre as suas cabeças, outras duas saíam das espáduas, e mais duas cobriam o resto de seus corpos celestes que aparentavam o Filho do Homem. De suas bocas sopraram um fogo poderoso e benigno que incendiou a todos os concebidos, sem os chamuscar nem consumir, antes purificando-os, avivando-os e conduzindo-os, como faúlhas que não esmorecem, crepitando contentamentos e regozijo, à Presença da Luz minúscula-infinita.

Ouviu-se então uma voz sonora – não para ouvidos já formados mas para organismos humanos, pessoais, já iniciados -, como a de um Homem já feito, brotando daquela Pessoa miudinha, que assim Se apresentava e se punha, frágil, indefesa, vulnerável, ínfima, que dizia: Não tenham medo, meus filhos e irmãos mínimos, porque o Pai em Mim tem desígnios de Misericórdia sobre vós. A Misericórdia que nós somos cuidará de vós, de um modo que não é dado a conhecer às criaturas. Tende confiança, porque tanto a Justiça como a Misericórdia se cumprirão, pois são duas faces da mesma Realidade.

A inumerável multidão, depois de terem adorado o Infinito-ínfimo, regressou cheia de alegria, dividindo-se de modo a que cada um regressasse ao seu sítio. E foi nesse lugar: uns acolhidos com amor no ventre materno, outros congelados em laboratórios, aqueles despejados em sanitas, estes vítimas de experimentações letais, outros desfeitos, desmanchados, violentamente nessa habitação, que julgavam segura, outros ainda dela escorraçados, quimicamente, mecanicamente, por produtos que impedindo-os de se nutrir morriam à fome.

Foi nesses lugares, dizia, que viram com os olhos de suas almas o Senhor da Glória, apresentar-se com todo o Seu poder e Majestade, colocando os pais destes concebidos, uns à Sua direita e outros à Sua esquerda; e olhando benignamente para os primeiros dizer-lhes: vinde benditos de Meu Pai porque o amor que destes ao mais pequenino e insignificante de todos, a Mim mesmo o destes; e de seguida com rosto severo e voz rigorosa dirá aos da sua esquerda: ide-vos malditos para o fogo do inferno, reservado para satanás e os seus anjos, porque todas as crueldades que praticastes com os mínimos entre todos, foram feitas a Mim mesmo.

Uma multidão jubilosa conclamou: Por fim, fez-se justiça! Essa mesma que nunca nos foi reconhecida na Terra, ser-nos-á concedida no Céu. Glória, honra e louvor ao Verdadeiro, o Amor imolado, a Misericórdia entregue em Sacrifício!! Amém. Amém. Pelos séculos dos séculos e eternamente. Amém.

E O Concebido apareceu irradiando lumes resplandecentes de Glória de dentro de Sua luminosa Mãe, que d’ Ele recebia todo o esplendor. E os concebidos impedidos de nascer, não obstante a desmesurada felicidade de anteverem a Justiça realizada, uma vez que mantinham ainda réstias do fogo, em que foram abrasados para poder penetrar na Gruta Limpidíssima, perguntaram à Luz da Luz, com um ardor caritativo, se não seria possível, sem prejuízo da Justiça, resgatar e salvar os cabritos da esquerda. Ao que a Luz mostrou, em visão espiritual, que sim, que a Sua Misericórdia também era Infinita, ponto era que a quisessem receber e acolher, de modo que de cabritos, e mesmo lobos, se tornassem ovelhas.

Ele, O Concebido, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, Consubstancial ao Pai, por Quem todas as coisas foram criadas, que morreu na Cruz para nos Salvar, só pede que cooperemos com a Sua Graça, arrependendo-nos, com verdadeira dor espiritual e detestação mal, por mais abominável que tenha sido, façamos um firme propósito de emenda de vida de vida, e recebamos o perdão no Sacramento da Confissão ou Reconciliação. Os que assim procederem serão inteiramente renovados, e uma vez transfigurados por aquela Graça que superabunda onde abundou o pecado entrarão na Glória do Seu Senhor, porque terão o Presépio no coração.

 

_____________Padre Nuno Serras Pereira

 

 

(Fonte: blog Senza Pagare – Texto adaptado para o português do Brasil)

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