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Povo clamou ao Cristo Milagroso e Ele extinguiu a epidemia. Hoje quem clama com fé?
Povo clamou ao Cristo Milagroso e Ele extinguiu a epidemia. Hoje quem clama com fé?
Por volta do ano 1300, um belíssimo Crucificado, entalhado em madeira, pendia do altar-mor na igreja de São Marcelo, na Via del Corso, na Cidade dos Papas.
Essa rua corta o centro e tem um desenho excepcionalmente retilíneo para as pitorescas ruas romanas, cheias de agradáveis surpresas em sua heterogeneidade.
A Via del Corso era então conhecida como Via Lata, ou rua longa, e teria sido percorrida por São Pedro quando decidiu abandonar Roma até se encontrar com Jesus Cristo bem mais longe, na igreja atual do Quo Vadis: Aonde vais, Pedro?
São Pedro arrependeu-se e voltou a fazer apostolado na cidade pecadora que o crucificaria no alto do Vaticano, onde se encontra hoje a basílica famosa construída sobre seu túmulo.
Na atual Via del Corso há muitas igrejas e capelas, algumas delas conservando o nome antigo, como Santa Maria in Via Lata.
O crucifixo em questão foi entalhado segundo a escola de Siena e está recoberto de ouro sendo considerado o mais realista de Roma.
Até que na noite de 23 de maio de 1519 um feroz incêndio devorou a igreja toda.
No dia seguinte os consternados romanos foram avaliar as destruições: da igreja de San Marcelo só restara um monte de cinzas e ruínas.
Com uma exceção: o Santíssimo Crucifixo, que desde então ficou conhecido como do Milagre. Ele estava intacto, e a lampadinha votiva que lhe era dedicada ardia a seus pés apesar de retorcida pelo calor do incêndio.
O fato sobrenatural, humanamente inexplicável, inspirou a criação de uma arquiconfraria – a Confraternità del Santissimo Crocifisso –, a qual existe até hoje e que tomou a peito a reconstrução da igreja.
Mas não passou muito tempo para que em 1522 irrompesse uma peste muito mais mortífera que o atual coronavírus, que progrediu de modo tão violento que passou para a História como a “Grande Peste”.
Essa fez jus ao seu horrível nome: desolou Roma durante seis meses ininterruptos, despovoando-a em virtude do enorme e crescente número de mortes.
Baldados os métodos conhecidos e não recebendo eco do Céu os apelos às numerosas imagens tradicionais às quais se recorria por ocasião das pestes, pensou-se então abandonar a cidade.
As autoridades julgaram oportuno vetar a afluência de devotos ao Crucifixo Milagroso, achando – como acontece hoje – que as reuniões de pessoas em locais sagrados servissem de ocasião para a multiplicação dos contágios.
Mas o desespero do povo passou por cima da interdição. A multidão invadiu do pátio do convento dos Servitas de Maria, para onde havia sido levado o Crucifixo Milagroso a fim de afastá-lo da excessiva multidão.
Os Servitas de Maria decidiram então fazer uma procissão penitencial com o Crucifixo até a basílica de São Pedro, que no mero cálculo do autor destas linhas deve se encontrar em torno de dois a três quilômetros de distância.
As crônicas do tempo registraram um fato providencial: a procissão acabou durando 16 dias, de 4 a 20 de agosto daquele mesmo ano de 1522.
Por que tanto?
Porque à medida que o Cristo avançava, os doentes iam sendo curados e a peste retrocedia ostensivamente.
E a evidência era tão grande que as pessoas convergiam de todos os cantos, enquanto os moradores dos bairros por onde o Cristo passava faziam questão de que Ele entrasse por esta ou aquela viela – que em Roma são inúmeras – onde havia doentes.
Até que, por fim, o Santíssimo Crucifixo conseguiu voltar para a sua igreja de São Marcelo.
No momento de seu reingresso constatou-se que a mortífera epidemia havia cessado por completo e que, mais uma vez, Roma podia ser considerada salva.
Que lição para os nossos dias!
Se há um castigo pior do que o coronavírus esse só pode ser a falta de fé dos clérigos e dos fiéis!
Esse mesmo Crucifixo Milagroso foi levado à desoladora bênção dada pelo Papa Francisco na Praça de São Pedro no dia 27 de março. O Papa não queria a presença do povo talvez por razões sanitárias.
Mas o povo romano, apesar de muito expansivo, não invadiu a Praça como fizeram seus antepassados em 1522 no convento dos Servitas de Maria.
Tudo se passou como se não houvesse mais Igreja, termo que significa Assembleia, reunião daqueles que professam a fé de Jesus Cristo.
O mais assustador da pandemia não são suas consequências materiais sobre a saúde e a economia das nações, mas sobre o povo – com todas as suas categorias hierárquicas incluídas –, que está dando pouca importância a Deus.
Isso, sim, pode atrair desgraças incomensuráveis de toda espécie.
_________Luis Dufaur
(Fonte: blog Orações e Milagres Medievais)