Sabedoria dos Santos

PRIMEIRO SERMÃO DE SÃO DOMINGOS

Tema: Mateus 6 - O Pai Nosso

PRIMEIRO SERMÃO DE SÃO DOMINGOS

(Tema: Mateus 6)

Vós que orais não quereis falar muito, como fazem os Pagãos. Assim então vós rezareis: Pater Noster etc.

Primeiro grupo de Cinquenta orações do Saltério. 1. “Pergunto caríssimos: em uma terra deserta e selvagem para os filhos pequenos, que caminham com dificuldade, não seria necessário ter um pai atento como companheiro de viagem? Eu o admito, vós confirmais. E nós somos aqueles pequenos, no deserto do mundo; não temos a força de caminhar, nem de cumprir nada sozinhos: porque essa provém de Deus. Por isso é necessário aprender a Oração do Senhor, através da qual teremos presente o Pai nosso, quando dizemos: “Pater noster”.

2. “Pergunto: se alguns viajantes atravessassem uma terra onde todos, atacados por serpentes ou dragões morrem. Não seria necessário aos viajantes um fortíssimo homem como guia? Alguém que não pudesse ser agredido pelos animais e que fosse capaz de matá-los? Que transportasse os viajantes nas costas num rio ou estrada? Ninguém diz que não. Nós vivemos na terra dos dragões infernais e de todos os pecadores.

Na verdade, Cristo é nosso Pai e Guia, é também o fortíssimo e máximo gigante do céu. Ele é a morte para a Morte e o tormento para o inferno, e Ele não morre, a morte não o domina. Por isso o acolhemos em nós, confiamos nele e dizemos “Que és”, ele é o Ser dos seres, imortal pela essência: “Aquele que é me enviou à vós” (Es. 3).

3. “Pergunto: se devêssemos caminhar através das terras tenebrosas do Egito, seria necessário o esplendor do sol, da lua e das estrelas? Sim, com certeza. Nós vivemos na terra obscura de trevas e na sombra da morte de todos os pecadores, pelos quais temos maior necessidade da luz do Céu. Para chegarmos à essa espiritualidade com os nossos corações, mais frequente oramos “Nos Céus”. Já que Cristo é o Céu dos céus e o esplendor de todos os Céus. Ele é o Sol de justiça e a Estrela descendente de Jacó”.

4. “Pergunto: Se alguém passasse onde todos caem em pecado mortal e são abandonados à morte eterna. Seria necessário que esse, para não cair em pecado, fosse cheio de santidade e parte na assembleia dos Santos? De que modo esse poderia ser salvo e liberto da morte? Ninguém o negará. Nós vivemos nessa terra. Quando a alma comete um pecado mortal, ela é destinada à morte, é condenada à privação da graça e da eternidade. Então levemos e rezemos o Saltério e com esse oremos “Seja santificado”, para que nós possamos ser, não só santificados, mas também ajudados pelos Santos de Deus”.

5. “Pergunto: estando prestes à percorrer a região de uma língua desconhecida, é necessário um interprete de confiança? Ninguém diz não. E bem nós somos esses peregrinos em terra estrangeira e procuramos a cidade futura, onde é necessário falar a língua dos Anjos. Se não a aprenderemos seremos exilados e afastados da pátria. Veem-se assim duas escolas onde é possível aprender a língua dos Anjos, ou seja, a Oração do Senhor e a Saudação Angélica. A repetimos então com uma continua familiaridade, no “Vosso Nome”. Essa é a Palavra de Deu, através da qual foram criadas todas as coisas: o nome de Jesus deve ser acrescentado por aquele que conhece bem a língua. Por isso Bernardo diz: Oh! Bom Jesus, o teu Nome é um doce Nome, um santo Nome, um forte Nome, um Nome terrível e piíssimo”.

Segundo grupo de Cinquenta. 6. “Quem vai viajar no Reino de um Tirano, que mata por prazer, precisa implorar a autorização do Rei para não sofrer violência em seu território? Certamente sim. E isso é o mundo, esse é o tirano: ele arrasta qualquer um à escravidão e à morte, depois de o ter espoliado de tudo, deixando apenas um vil pano para envolver o cadáver. Nós estrangeiros devemos atravessar isso: o que permanecerá se não implorarmos à potência de Deus: Oh! Senhor, “Venha vós ao vosso Reino”? Te dirigirás ao Reino de todos os Reinos, ao Reino do Filho, Vencedor de todas as coisas, das quais (diz) Crisóstomo: “O teu Reino, Jesus Cristo, supera todos os Reinos do Mundo e faz passar com segurança aos Reinos Celestes qualquer fiel: visto que tu és o Rei dos Reis e o Senhor dos Senhores (Ap. 19)”.

7. “Aquele que encaminha-se para uma terra hostil, deve obter a proteção de um Imperador poderoso, que o defenda dos roubos, da escravidão e dos ladrões pela avidez?

Certamente sim. Nós, circundados pelas adversidades da terra, seríamos conduzidos à rapina, à escravidão e à morte, se uma força do Império não nos salvasse. Na liberdade procuramos um lugar imperial que nos proteja, como libertos do Senhor dos Senhores, do qual a única vontade pode ser a nossa segurança e liberdade. Oramos: “Seja feita a vossa vontade”. Diz Santo Agostinho, a extrema liberdade é fazer a vontade divina. Servir Deus é reinar”.

8. “Se alguém devesse atravessar uma região inundada pelas águas, não precisaria de um navio ou de um carro ou de um outro meio de transporte? Concordem comigo. Nós somos aqueles acercados pelas misérias da vida: então, diz S. Basílio, esse mundo é um dilúvio de pecadores. Por isso o nosso refúgio está no Céu. Dizemos orando “Como no Céu”. No Céu existe o carro dos astros, a via Láctea, Maria a estrela do mar: a saudamos no Saltério. Do céu a salvação difunde-se sobre as coisas terrenas”.

9. “Se a estrada da tua peregrinação fosse áspera pelos montes e selvagem pelas florestas e no trajeto cheio de buracos, fostes abatido por terremotos, seria inevitável a tua morte por ter suportado os extremos males ou encontrar uma estrada através da qual possas prosseguir. A tua Alma é peregrina sobre a terra do teu corpo, circundada por enfermidades, cheia de espinhos, volúvel entre os tremores e as vicissitudes das situações e duvidosa entre a esperança e o medo. Entres no celeste caminho da Oração do Senhor “Na terra”. Essa Oração é a vida para os Céus”.

10. “Faças assim: sobre a terra estéril tu conduzes uma vida mísera, onde existe a fome e a privação e vês muitas imagens da morte que se realizam. Diante disso não devias procurar comida e bebida? Por que não falas? Ah, onde vivemos a vida! E quanto é mísera! Estamos na terra deserta, diz São Gregório, num lugar de horrores e de grande solidão, de fome e de morte: porém, a Oração, diz São Basílio, oferece o pão da vida e a bebida. Porque então vós não pegais o Saltério e a ele não vos voltais pedindo o “Pão nosso de cada dia”?

III. Terceiro grupo de Cinquenta. “11. Se alguns tivessem dedicado toda a vida ao Príncipe, tanto que não pudessem ser nutridos por ninguém que não fosse ele. E se o Príncipe não quisesse dar à eles nenhum alimento, exceto aqueles que tivessem o distintivo real e a palavra de ordem. Isso não seria de estrema maldade? Não duvidais. Nós vivemos sob a potente mão do Senhor, a qual aparece e sacia cada ser vivente, mas somente diante da palavra de ordem, dada ao mesmo. Considerando que, segundo São Crisóstomo, a Oração evangélica é o verdadeiro distintivo da divina bondade e poder: é justo, que seja dito mais frequentemente no Saltério: “Dai-nos”.

12. “Aqueles que endividaram-se grandemente com um rei cruel e não o pagam, então deviam pagá-lo pessoalmente, sob a pena de morte eterna. Se, ao invés, o Rei se demonstrasse pronto a perdoar tudo, bastando para tanto que fosse pedido o perdão: não seria considerado louco e infeliz aquele que não quisesse dar à ele um tão pequeno gesto de submissão e de reverência?

Sim, com certeza. E mesmo nós somos devedores de Deus, por nos vendermos pelos infinitos débitos e terminarmos nos mercados dos escravos, e passar aos atormentadores: e podemos fugir à essas coisas com uma pequena oração. Disse o mesmo Rei: se me invocam, eu os ouvirei e serei o Deus deles. Quem de nós, então, não o invocará mais frequentemente no Saltério? Oh Senhor, “Perdoai os nossos pecados”. De fato, a oração do Senhor, diz Remigio, é o pedido dos filhos ao pai, para aliviar a miséria humana com a colheita dos bens e a remoção dos males”.

13. “Se alguns homens, aprisionados pelo Príncipe e feitos escravos, estivessem para ser mortos pelos seus cruéis delitos e não quisessem perdoar as ofensas do próximo: esses deveriam ou não ser considerados infelizes e malditos? Todos concordam comigo. Essa remissão é em relação ao próximo, quando orando dizemos “Como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido”.

14. “Se alguns fossem tentados pelo demônio, da carne e do mundo, das dores e das misérias, e pudessem ser imunes desse apenas com uma pedra preciosa: como poderiam se negar a adquirir tal pedra, ou afastá-la e não a querer? Deveriam ser loucos e certamente míseros, e nenhum deles seria digno de compaixão. Essa pedra preciosa é a Oração do Senhor, que protege, diz Santo Agostinho, de todas as ilusões e agressões. Por isso é necessário orar frequentemente o Saltério “E não nos deixei cair em tentação”.

15. “Se, enfim, devêssemos navegar através do mar infestado de baleias, com o perigo de naufragarmos pelas pedras, redemoinhos, monstros, sereias e até tempestades e piratas; e o Rei e a Rainha, nos tivessem oferecido símiles pedras preciosas, que tivessem a força de nos liberar de todos esses males e nós não a aceitássemos. Quem não nos chamaria de loucos? E nesse mar do mundo estão demônios, existem delitos implícitos e explícitos, luxúria, gula, etc. Cristo, então, oferece a sua Oração e Maria a sua Saudação, para que a acolhemos e digamos no Saltério: “Mas livrai-nos do mal”.

NOTA: Ontem, 8 de agosto, foi o dia de São Domingos de Gusmão, considerado o Precursor do Santo Rosário da Santíssima Virgem, ao qual ele denominava de Saltério de Jesus e Maria, mas por coincidir com o 19º Domingo do Tempo Comum, sua Memória foi omitida.

(Fonte: in O Saltério de Jesus e de Maria: gênese, história e revelação do Santíssimo Rosário, Beato Alano de la Roche, obra reimpressa em Imola/1847 Terceira Parte, Cap. I, pp. 217-222, obra em formato PDF e que pode ser baixada neste link: http://www.beatoalano.it/pdf/libro_tradotto/PSALTERIUM_ALANUS_DE_RUPE-Portugu%C3%AAs.pdf. Texto revisto, atualizado e adaptado por nós)

Mostrar mais

Artigos relacionados

Translate »
...