Espiritualidade e Sabedoria Beneditina

“Quem é o Deus de nosso pai São Bento?”: 11 de julho, Solenidade de São Bento Abade

“Quem é o Deus de nosso pai São Bento?”: 11 de julho, Solenidade de São Bento Abade

Cada ano, no dia 11 de julho, celebramos nosso pai São Bento, fazendo memória de sua santidade, seus milagres, seu exemplo, sua regra, sua poderosa intercessão. Neste artigo, consideremos São Bento como Teólogo, e coloquemos a pergunta: Quem é o Deus de São Bento? Assim como o discípulo Eliseu queria saber «Onde está o Deus de meu mestre Elias?», assim nós queremos saber: «Como é o Deus de nosso mestre São Bento?»

Antes de tudo, o Deus de São Bento é real, vivo. Ele está presente em todo lugar, presente a cada um de nós, de nossos pensamentos, desejos, movimentos íntimos de nosso coração. Ele nos vê e nos envolve, nos acompanha em todo momento de nossa vida. O seu olhar é Verdade; ele vê a nós e a nossa vida tal como nós somos (Regra de S. Bento [RB] 7: Primeiro grau da humildade).

O Deus de São Bento é o criador e o mestre do universo, o senhor da história. Ele governa e ordena todas as coisas e acontecimentos. É isto que Bento quer dizer quando fala dos “seus justos julgamentos” e encontra na sábia disposição do tudo no mundo o maior motivo para louvá-lo (Capítulo 16 sobre o Ofício Divino).

O Deus de São Bento é um pai piedoso (pius pater). Ele fala ao ouvido de nosso coração; ele não apenas nos dá a existência, mas nos educa e nos eleva à altura de nossa identidade filial. (Prólogo).

O Deus de São Bento é Rei, um verdadeiro Rei, que vai à nossa frente e pelo Evangelho nos mostra o caminho que conduz à vida. Este caminho contém seus perigos e seus adversários, mas Cristo (pois assim se chama este rei) nos ensina a manejar as armas com as quais venceremos qualquer obstáculo. A arma principal deste rei é obediência à santa vontade de Deus (Prólogo).

O Deus de São Bento nos inspira por seu Espírito. É este Espírito que nos desperta do longo sono da ilusão e nos mostra que a vida é uma peregrinação para o Reino que Deus Pai preparou para nós, seus filhos. É o Espírito que nos impele e nos adverte contra a preguiça e a mediocridade. É este mesmo Espírito que dá a conhecer a nossa herança futura, a qual seríamos incapazes de contemplar ou imaginar por nossas próprias faculdades (Cap. 4: Os Instrumentos das Boas Obras).

O Deus de São Bento, convidando-nos a assemelhar-nos cada vez mais a Ele, entende e aceita os nossos desvios e deslizes. Sua misericórdia divina nos protege do desespero quando não correspondemos à Nova Lei, e é o abraço desta mesma misericórdia que nos dá a coragem necessária para nos levantarmos recomeçar a caminhar (Cap. 4: Os Instrumentos das Boas Obras).

O Deus de São Bento habita no mosteiro, que ele considera Seu santuário e Sua casa. Ele é o centro magnético desta casa, para o qual tudo converge. Por essa razão, tudo no mosteiro é sagrado; não há nada que não seja, de alguma forma, um vaso sagrado do altar. Por isso, tudo deve ser executado com atenção e cuidado, e toda atividade é Liturgia. Do mesmo modo, todas as relações fraternas, horizontais ou verticais, devem ser marcadas pela reverência e pelo amor mútuo. O mosteiro é a antecâmara do Reino, onde nós nos habituamos a viver no reino definitivo. Nesta comunidade santa, Deus deve ser em tudo glorificado (Capítulo 31, sobre o celereiro; Capítulo 57, sobre os artesãos do mosteiro; Capítulo 72, sobre o bom zelo).

O Deus de São Bento age e se manifesta nas pessoas humanas. O abade é chamado a ser a encarnação da sabedoria e equidade de Deus; o enfermeiro deve encarnar a ternura e o cuidado maternal de Deus; o celereiro deve fazer presente e palpável a providência de Deus; o porteiro deve exprimir a acolhida universal de Deus para todos que se aproximam de sua casa; o mestre de noviços deve possuir a aptidão de Deus para atrair novos irmãos à prática tranquila e constante da santidade. Cada irmão tem o seu dom, e cada dom é um atributo divino a ser posto a serviço da comunidade.

Há muitas outras intuições teológicas na Regra, mas estas nos dão uma ideia básica do Deus de São Bento, aquele Deus que o retirou da corrupção do mundo e o conduziu ao deserto, para fazer dele pai de uma multidão de monges e Patriarca do Ocidente.

 

 

(in Caminho Cisterciense, pub. em 12.07.2018)

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