SANTA GERTRUDES DE HELFTA: “DOS ANJOS – NA FESTA DE SÃO MIGUEL ARCANJO”

SANTA GERTRUDES DE HELFTA: “DOS ANJOS – NA FESTA DE SÃO MIGUEL ARCANJO”

Um dia em que Gertrudes devia comungar, à aproximação da festa de São Miguel Arcanjo, quando meditava sobre o socorro que a liberalidade divina se dignava conceder à sua indignidade pelo ministério dos outros espíritos bem-aventurados, desejou retribuí-los de alguma maneira e ofereceu ao Senhor o sacramento vivificante de seu Corpo e Sangue, dizendo:

– Amadíssimo Senhor, eu vos ofereço este admirável Sacramento em homenagem aos grandes príncipes de vossa corte e para acréscimo de sua alegria, de sua glória e de sua beatitude.

Então, o Senhor, atraindo e unindo à sua divindade, de uma maneira tão maravilhosa quanto inefável, o Sacramento que lhe era oferecido, distribuiu aos espíritos bem-aventurados prazeres tão grandes, que se eles já não estivessem na beatitude, isso seria suficiente para enchê-los de felicidade. As diversas ordens de anjos vieram, uma a uma, saudá-la co respeito e lhe diziam:

– Fizestes bem em nos honrar com essa oferta, porque velamos sobre ti com uma afeição especial.

A ordem dos anjos dizia:

– Velamos com alegria, dia e noite, na sua guarda; impedimos que percas algum dos favores que te podem preparar convenientemente para a chegada do Esposo.

Então, Gertrudes deu vivas ações de graças a Deus e aos bem-aventurados espíritos. Mas, sobretudo, ela desejava reconhecer, entre os anjos, qual era o destinado à sua guarda. Ora, eis que um anjo lhe apareceu como um nobre príncipe, coberto com tão riscos ornamentos de que nada neste mundo pode dar uma ideia. Um de seus braços envolvia o Senhor e o outro cercava a alma de Gertrudes, e o anjo dizia:

– Animado pela longa intimidade com que tantas vezes inclinei o Esposo divino para essa alma e elevei a até Ele, pelo gozo espiritual, ouso aproximar-me, neste momento.

Gertrudes ofereceu então a esse anjo, as pequenas orações que ela tinha recitado em sua honra. Ele as recebeu com alegria e as apresentou como belas rosas brilhantes de frescor à Trindade sempre adorável. Em seguida, apareceram os Arcanjos , que saudavam a alma com afeição, dizendo:

– Queremos, ó esposa privilégiada de Cristo, te revelar, com uma íntima familiaridade e na medida em que possas compreendê-los, os misteriosos segredos de Deus que conhecemos no espelho da ciência divina, como mais úteis à tua alma.

As Virtudes, por sua vez, diziam:

– Nós te serviremos com devotamento em tudo o que fizeres para a glória e o louvor daquele que é teu Senhor e nosso, por tuas meditações, teus escritos ou tuas palavras. Nós te sustentaremos fielmente e a exitaremos a trabalhar ainda mais.

As Dominações acrescentaram:

– A honra do rei ama a justiça, o coração impelido pelo amor não conhece o freio da razão. Assim, todas as vezes que o Rei da glória desfrutar o seu prazer repousando em tua alma e esta for por sua vez arrastada para Ele pelos impulsos do amor, nós prestaremos a ele em teu lugar o respeito devido à sua grandeza, a fim de que sua glória soberana não sofra nenhuma ofensa e não perca nenhuma homenagem.

Os Principados diziam:

– Faremos todos os nossos esforços para te apresentar sempre ao Senhor Rei dos reis, ornada com as sublimes virtudes próprias a encantar seu coração.

E as Potestades acrescentavam:

– Sabemos por que união estreita pela qual o Bem-amado é ligado à tua alma. Assim, velaremos sem cessar para repelir todos os obstáculos interiores ou exteriores que poderiam perturbar, ainda que pouco, vossos doces e misteriosos colóquios, pois esse divino comércio dá grande alegria à corte celeste e a toda a Igreja. Com efeito, uma alma amorosa pode obter de Deus mais graças de salvação para os vivos e para os mortos do que milhares de almas sem amor poderão obter.

Então Gertrudes deu fervorosas ações de graças ao Senhor Deus e a todos os espíritos bem-aventurados, por esses favores e por muitos outros que poderiam ser contados se a fraqueza humana n]ao pusesse obstáculo a isso. Portanto, que se os confie à bondade divina, porque só ela conhece todas as coisas com perfeita clareza.

(Fonte: opúsculo Mensagem do Amor Divino – Revelações de Santa Gertrudes, Livro IV, editora Artpress, São Paulo/2016, Cap. LIII, pp. 258-261)