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SOLENIDADE DE DOMINGO DE PENTECOSTES

SOLENIDADE DE DOMINGO DE PENTECOSTES – MISTÉRIO DO DIA

PREPARAÇÃO. Nesta festa realizou-se o que desejava o sábio quando dizia a Deus: “Senhor, renova os teus prodígios – e faze novas maravilhas” (Ecl 36, 6). O céu operou de fato nesse dia prodígios novos. Esses prodígios produziram maravilhosos efeitos nos apóstolos e nos primeiros cristãos. – Tomemos a resolução de redobrar de fervor e confiança pedindo ao divino Paráclito nos transforme em homens novos.

1º Maravilhas operadas nesse dia

Lendo na Escritura os prodígios com que Deus tirou seu povo do Egito, como o conduziu pelo deserto e o fez entrar na terra da promissão; conhecendo o aniquilamento do Verbo e vendo a Sabedoria incriada multiplicar os milagres com profusão sem exemplo, perguntam-nos se era ainda possível operar outras maravilhas e se era permitido exclamar com o Eclesiástico: “Senhor, renova os teus prodígios, faze novas maravilhas”.

Parece, entretanto, que o Espírito Santo ouviu essa espécie de provocação. Apareceu nesse dia, como nunca o fizera, sob a forma de línguas de fogo, dando a entender a todos que vinha difundir sobre a terra os divinos ardores da caridade por meio da pregação. Anuncia-se com estrépito para significar que sua ação não se limitará, como a do Salvador, a um povo, a uma região; mas que se estenderá, pelos apóstolos e seus sucessores, até às extremidades do mundo. Assim se completa a estrutura admirável da Igreja católica, Igreja simbolizada em Eva desde a origem do mundo, Igreja em germe sob os patriarcas, preconizada pelos profetas, preparada e figurada pela sinagoga, aperfeiçoada por Jesus Cristo seu Chefe e coroada pelo Espírito Santo, que é como seu centro, seu coração e sua vida divina até à consumação dos séculos.

Ó sublime coroamento de uma obra que abrange todas as idades, santifica todas as gerações e nos proporciona todas as graças de salvação! Por ela, a verdadeira doutrina, a oração, os sacramentos, o sacrifício vão regenerar as almas. Por ela, o gênero humano vai passar das trevas à luz, da corrução à pureza dos anjos, do egoísmo à perfeita caridade, e de todos os vícios à santidade evangélica. Vê-Ia-ão elevar-se e estender-se pelo universo: e a hierarquia dos bispos e dos sacerdotes e uma multidão de ordens religiosas e de instituições sem número que aliviarão todas as misérias e consolarão todos os infortúnios. Não é essa uma obra mil vezes mais admirável que a da criação? Nesta trata-se da natureza e das coisas do tempo; naquela, do reino da graça e dos mistérios da eternidade!

Espírito de sabedoria e de fortaleza, excedestes toda a nossa expectativa, completando a obra da Redenção; dignai-vos iluminar-me e fazei que eu melhor compreenda a imensa felicidade de ter nascido na Igreja católica, coluna e base da verdade, reservatório inesgotável das graças santificadoras. Tornai-me sempre pronto a aproveitar os sacramentos, a santa missa, a oração e o banquete eucarístico, para ser um homem novo transformado pela fé viva e inflamado, dos puros ardores da caridade.

2º Efeitos particulares da descida do Espírito Santo

Apenas os apóstolos receberam o Espírito Santo, conheceram todos os mistérios a revelar ao mundo. Ignorantes até então, encheram-se da ciência das Escrituras e falaram diversas línguas sem as haver aprendido. A lei da graça ficou como que inscrita em seus corações; amavam-na e sentiam-se constrangidos a observá-Ia. O ardor da caridade tornou-os capazes de sacrificar mil vidas para a glória e o serviço do caro Mestre. Daí o zelo da salvação das almas, que os dispersava para todos os países.

Aquela coragem intrépida contrastava singularmente com a timidez de outrora. Eles, que fugiram no tempo da paixão, abandonando o Salvador aos inimigos, e que desde aquela época se conservaram sempre ocultos por puro medo, agora exprobram abertamente aos judeus o haverem dado a morte ao Messias. Afrontando as perseguições, suportam toda sorte de torturas e acabam por selar com seu sangue a doutrina que pregam pela autoridade de Jesus.

E esses efeitos maravilhosos não se limitam aos apóstolos; comunicam-se aos primeiros cristãos, que se dedicam à oração, à mortificação, às obras de caridade e de zelo; renunciam sem hesitar a seus bens e os põem em comum; afastados dos prazeres do século, esmeram-se em observar os divinos preceitos; e, desejando tornar-se conformes a Jesus crucificado, chegam a entregar-se ao martírio às centenas e aos milhares. Ó maravilha que excedeu a expectativa de todas as idades e realizou as profecias além das esperanças.

Aproveitais, como os primeiros cristãos, as graças do Espírito Santo? “Os que a receberam, diz São João Crisóstomo, desprezam as riquezas temporais e se sentem obrigados a procurar os tesouros da eternidade”. Comprazem-se em viver pobres e nas provações, isolados no mundo, possuindo tão somente a Deus. Que fidelidade em obedecer às inspirações divinas, quando elas reclamam o silêncio, o recolhimento, o emprego da oração nos momentos livres, a renúncia a determinada afeição, a tal leitura, falta – ou defeito!

Tendes essas disposições de docilidade ao beneplácito do Espírito Santo? Meu Deus, quão longe estou delas, eu que tantas vezes resisto aos impulsos da vossa graça! Pelos méritos de Jesus e Maria, concedei-me: a prontidão do entendimento e da vontade para me submeter a vós; a coragem de vos obedecer nos desgostos, tristezas e enfadas bem como na paz, alegria e consolações.

(Fonte: in Meditações Para Todos os Dias do Ano, R. P. Bronchain, C.SS.R, traduzidas da 13ª edição francesa pelo R. P. Oscar Chagas, C. SS.R., Tomo Segundo, Editora Vozes, 1940, pp. 98-100, obra em formato PDF obtida do blog Alexandria Católica. Texto revisto, atualizado e com destaques acrescidos)

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