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SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

No Brasil esta solenidade é celebrada no domingo subsequente ao dia 1º de Novembro, data litúrgica desta festa.

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS
TODOS OS SANTOS

A Santa Igreja instituiu esta festa, na qual são comemorados juntos todos os santos, mesmo os não-canonizados, para que possamos invocá-los e pedir o seu auxílio nas agruras desta vida.

Entre todas as comemorações que a Igreja católica instituiu para o ano litúrgico, em reverência aos bem-aventurados que gozam da glória eterna, a mais solene e de maior devoção é a que se celebra no dia 1º de novembro, em honra de todos os santos, porque é a festa que abarca a todos os santos que estão no Céu, sem excluir nenhum. A Igreja militante se encomenda a eles, invoca-os e chama em seu favor toda aquela admirável companhia da corte celestial.

Nos primeiros tempos do Cristianismo, costumava-se celebrar no próprio local de seu martírio o aniversário da morte daqueles que tinham morrido por Jesus Cristo. No quarto século, no Oriente, dioceses vizinhas começaram a intercambiar festas, transferir relíquias, dividi-las, e a unir-se numa festa comum, como se comprova por um convite que São Basílio de Cesaréia (379) enviou aos bispos da província do Pontus. Pelo fato de muitos mártires terem sofrido o martírio no mesmo dia, estabeleceu-se uma comemoração conjunta de vários deles.

Origem da comemoração em honra de todos os santos

Na perseguição de Diocleciano o número de mártires foi tão grande, que não se podia instituir para cada um deles uma festa particular. Mas, como a Igreja queria que todo mártir fosse venerado, apontou um dia comum para todos. O primeiro traço disso, encontramos no ano 359, em Edessa, que celebrava no dia 13 de maio a “memória dos mártires de todo o mundo”. Vemos também uma menção dessa comemoração num sermão de Santo Efrém (373) e numa homilia de São João Crisóstomo (407). Em 411, o calendário siríaco já assinalava também uma “Comemoração dos Confessores”, no sexto dia da Semana da Páscoa.

No Ocidente, embora os Sacramentários dos séculos V e VI tragam muitas missas em honra dos santos mártires, não havia dia fixo para sua celebração. Foi no dia 13 de maio de 610, no século seguinte, que o Papa Bonifácio IV, ao fazer exorcizar, purificar e benzer o antigo Panteão romano — que fora dedicado “a todos os deuses do Império” — dedicou-o a Nossa Senhora e a todos os mártires, pelo que passou a chamar-se Sancta Maria ad Martyres; e depois, Nossa Senhora da Rotonda, por causa de sua forma circular. Para lá mandou levar muitos ossos de mártires que havia nos vários cemitérios e catacumbas de Roma. A partir de então, todos os anos, no dia dessa dedicação, havia uma celebração em honra de todos os mártires que ali se veneravam.

Por volta do ano 731, o Papa Gregório III consagrou, na igreja de São Pedro, uma capela em honra de todos os santos, e desde então celebrava-se na Cidade Eterna uma comemoração em seu louvor. O Papa Gregório IV, em 837, estendeu essa festa à França; e a partir de então, a toda a Igreja. Em 1480, o Papa Sixto IV concedeu uma oitava à festa, o que a tornou ainda mais célebre em todo o mundo, chegando a ser uma das principais da Cristandade.

A Igreja Militante homenageando a Triunfante

Por que uma festa para todos os santos? A Santa Igreja quis, por essa festa, honrar também os santos que não têm uma comemoração particular durante o ano, seja porque são pouco conhecidos ou porque se faz menção de seus nomes apenas no dia de seu triunfo para o Céu. Seu número, incontável, impede que tenham um culto distinto e separado. “Certamente não era justo deixar sem honra esses admiráveis heróis do cristianismo que serviram fielmente a Deus durante sua vida mortal e empregam continuamente suas preces no Céu para nos obter perdão de nossos pecados, e graças poderosas para chegarmos à felicidade de que já gozam”.(1) Era, pois, necessária uma festa que fosse uma homenagem de toda a Igreja Militante a toda a Igreja Triunfante. Pelo que já dizia São Beda, o Venerável, no século VIII: “Hoje, diletíssimos, celebramos na alegria e em uma só festa a solenidade de Todos os Santos, cuja sociedade faz que o Céu estremeça de gozo, cujo patrocínio alegra a Terra, cujos triunfos são a coroa da Igreja”.(2)

Outra razão, proveniente do Ordo Romano, é a de dar oportunidade a todos os fiéis, eclesiásticos ou leigos, de reparar por um novo fervor as negligências com que celebraram as festas particulares desses santos. Poder-se-ia ainda acrescentar que, louvando todos os santos numa só comemoração, visamos atrair para nós a proteção e a intercessão de todos eles e conseguir assim favores especiais que, pelos nossos muitos pecados, não alcançamos.

Pode-se acrescentar também que a Igreja Militante quer, por uma festa reunindo todos os Santos, interessá-los em sua defesa e proteção, e como que incentivá-los a juntar sua intercessão para obter-lhe favores extraordinários. Era o que dizia na Coleta da missa desse dia: “Onipotente e sempre eterno Deus, que nos concedeste venerar os méritos de todos teus Santos em uma mesma festividade: nós te suplicamos que, multiplicados os intercessores, nos concedas a ansiada abundância de tua propiciação”.(3)

Por fim, na instituição desta festa dedicada a todos os Santos num só dia, a Igreja propôs aos fiéis que desejassem a felicidade inestimável e a glória a que foram elevados, as riquezas e as delícias de que gozam na mansão dos bem-aventurados, como descreve admiravelmente São João no Apocalipse: “Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu de junto de Deus, adornada como uma esposa ataviada para o seu esposo. Ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis o tabernáculo de Deus com os homens; habitará com eles, eles serão o seu povo e o mesmo Deus-com-eles será o seu Deus; enxugar-lhes-á todas as lágrimas dos seus olhos; e não haverá mais morte, nem luto, nem clamor, nem mais dor, porque tudo isto passou” (Ap 21, 2-4). E “a cidade [Jerusalém celeste] não tem necessidade de sol, nem de lua, que a iluminem, porque a claridade de Deus a ilumina, e a sua lâmpada é o Cordeiro. As nações caminharão à sua luz e os reis da Terra lhe trarão sua glória e a sua honra. As suas portas não se fecharão no fim de cada dia, porque ali não haverá noite. Levar-lhe-ão a glória e a honra das nações. Não entrará nela coisa alguma contaminada, nem quem cometa abominação ou mentira, mas somente aqueles que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro” (Ap 21, 23-27).

Os santos e as bem-aventuranças

Os santos de Deus são aqueles heróis de Jesus Cristo que, alcançando uma vitória sobre o demônio, o mundo e a carne, e praticando as virtudes em grau heroico, alcançaram a eterna bem-aventurança. Por isso o Evangelho da missa própria é o das bem-aventuranças, como para mostrar-nos qual é o caminho que devemos seguir para fazer-lhes companhia na eterna glória:

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino do Céu;
Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a Terra;
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados;
Bem-aventurados os que usam de misericórdia, porque alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino do Céu.

O que fazer para participar dessa felicíssima glória na Jerusalém Celeste? Temos os Mandamentos, a doutrina da Igreja e os exemplos dos santos. Uns, como Santa Maria Goretti, alcançaram a coroa eterna pelo seu amor e defesa da virgindade; e outros, como Santa Maria Madalena, pelo seu profundo arrependimento e penitência. Um grande número, como Santa Inês, alcançou a palma do martírio pelo seu abrasado amor de Deus; outros, como Santa Catarina de Siena, confessando o seu santo Nome diante dos homens. Nenhuma pessoa humana chegou à eterna felicidade senão pela via da Cruz, e praticando as virtudes do Divino Mestre, da humildade, da paciência, da combatividade, mansidão, castidade, abrasado amor de Deus e do próximo e ódio ao mal e ao pecado.

Todos eles brilham no Céu, de uma luz participada da luz do próprio Deus. Mas no Céu os santos de Deus, apesar da uniformidade do amor que os abrasa, resplandecem com diferentes luzes, de acordo com a virtude com que mais brilharam na Terra.

Assim as viu o Apóstolo Virgem também em seu profético livro do Apocalipse: As almas virgens “cantavam como que um cântico novo … e ninguém podia cantar esse cântico senão […] aqueles que não foram contaminados com mulheres, porque são virgens. Estes seguem o Cordeiro para onde quer que ele vá” (Ap. 14, 3-4).

Por outro lado, os mártires “que estão revestidos de vestes brancas […] são aqueles que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap. 7, 13-14).

Já “aqueles que tiverem sido doutos resplandecerão como a luz do firmamento; e os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça luzirão como as estrelas por toda a eternidade”, diz o profeta (Dan 12, 3), o que se aplica aos antigos Padres da Igreja e aos Doutores, e também a todos os que ensinam aos outros a verdadeira doutrina católica.

Concluindo: “O cântico novo das virgens, a branca estola dos mártires e o esplendor de firmamento dos doutores são, na límpida sinalização dos textos sagrados, os dados característicos que dignificam, de maneira singular, as três formas de eleitos e os individuam vivamente aos olhos admirados dos outros”.(4)

_________Plinio Maria Solimeo

 

 

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Notas (da fonte):
1. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo XIII, p. 94.
2. Apud Frei Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo IV, p. 247.
3. Dom Próspero Guéranger, El Año Liturgico, Editorial Aldecoa, Burgos, 1956, tomo V, p. 711.
4. Pe. Guglielmo Luigi Rossi, Paradiso, apud Gustavo Antônio Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo, O Céu, Esperança de nossas Almas, Artpress, SP, 2004, p. 116.
Outras obras consultadas:
– Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo IV, La fiesta de Todos los Santos.
– Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1987, tomo III, Todos os Santos.
– Pe. Pedro de Ribadaneira, La Fiesta de Todos los Santos, Flos Sanctorum, apud Dr. Eduardo M. Vilarrasa, La Leyenda de Oro, tomo IV, L. González y Compañia, Barcelona, 1897.

 

 

(Fonte: revista Catolicismo, nº 683, Novembro/2007, “Vida dos Santos” – Destaques acrescidos)

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