Semana Santa

VIGIAI E ORAI

VIGIAI E ORAI

Prelúdio:

Representemo-nos Jesus, pálido e trêmulo, cercado dos três apóstolos, fazer-lhes as últimas recomendações, que ele resume nestas palavras: Vigiai e orai.

Ó querido Jesus, dai-me a graça de penetrar o sentido das vossas palavras e de convencer-me da necessidade de vigiar e de orar.

I

Jesus continua (Mc. 14, 38):

Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espirito, na verdade, está pronto, mas a carne e fraca.

II

Após a doce repreensão que acabais de fazer a vossos apóstolos adormecidos, e de ter assim chamado atenção deles para vossas palavras, vós lhes fazeis grande e suprema recomendação para perseverar. Resumindo em duas palavras toda a vossa instrução, vós lhes dizeis: Vigiai e orai! Estas duas palavras dizem tudo, mas para fazê-las penetrar mais profundamente em suas almas, vós lhe ajuntais as razões: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação! Em seguida, como que para lhes recordar suas promessas passadas e suas fraquezas presentes, para lhes mostrar que não basta querer, com um querer humano, mas sim com uma vontade apoiada e sustentada pela graça do alto, vós continuais: “Porque o espírito, na verdade, est pronto, mas a carne é fraca!” (Mc. 14, 38).

Dizendo estas palavras, ó Jesus, vosso olhar doce fixa-se sobre os apóstolos, como para fazer penetrar esta verdade e dar-lhe toda a força de vossa autoridade … Os apóstolos escutam-na, compreendem-na, e, nesta hora de fraqueza, estão bem convencidos de sua exatidão, mas a sua emoção perturba-os, não lhes permite aplicá-la imediatamente como eles o deveriam ter feito. O seu espírito acolheu-a prontamente, mas a natureza entorpecida era fraca e não recorreu ao remédio indicado: a oração.

Entretanto, as vossas palavras são de uma clareza e força esmagadoras. É como se lhes dissésseis: Recomendai-vos a Deus, pois é chegado o tempo da tentação, que eu vos predisse tantas vezes (Mt. 26, 31). Não vos fieis em fervor passageiro: o espírito está pronto, mas o espírito não age só e se ele não é sustentado pela força do Alto, sucumbe sob o peso da fraqueza e da inconstância da carne (Teof. In Mt. 26).

Vós não lhes dizeis que orassem para não serem tentados, mas para não serem vencidos pela tentação; logo eles estão ameaçados de renegar-vos, de fugir-vos e de abandonar-vos (S. Jerônimo in Mt.) … mas vós pedis que, estando expostos ao perigo, eles peçam a Deus a força de vencê-lo e de não sucumbir ao mesmo (S. Boaventura in Lc. 22).

III

Estas palavras, ó bom Jesus, não se dirigem menos a mim do que aos vossos apóstolos (S. Ambrósio, De voc. gent. c. 9). Elas são o resumo de toda a vida cristã e a regra de toda a perfeição e exprimem energicamente as duas condições esta verdade e dar-lhe toda a força de vossa autoridade.

Em vista de sua importância, é preciso que eu me convença disso bem profundamente: vigiar e orar!

Vigiar é estar atento, é evitar as ocasiões de cometer o pecado. Esta fuga das ocasiões não é bastante observada por certas almas, e esta é a razão de seu pouco progresso. Após uma exortação, um retiro, uma boa meditação, o espírito está pronto a praticar a virtude, a fazer até atos heroicos. Esta disposição é boa e santa; é preciso mantê-la, excitá-la, fortificá-la o mais possível; mas é preciso dar-lhe um apoio divino: o apoio da oração. É o primeiro elemento do progresso, porém este elemento é ainda insuficiente. O Salvador não recomendou somente orar… ele ajuntou-lhe que: vigiassem (Mc. 13, 37).

Querer e orar para querer mais energicamente são elementos espirituais: é o encontro de nossa vontade com a vontade divina, e este encontro constitui a base de toda ação meritória e de toda virtude. Mas há também um elemento material, elemento igualmente necessário, porque o homem, sendo um composto de corpo e alma, não é somente esta última que deve agir, mas a natureza humana toda inteira, é a personalidade do homem.

E esta personalidade compõe-se da alma com suas faculdades espirituais, e do corpo com seus sentidos materiais. Ora, esta parte material, absolutamente necessária, é a vigilância; em outros termos: é a fuga das ocasiões (1Cor. 10, 12), tão recomendada por Nosso Senhor! Os homens são, geralmente, o que é o meio onde estão colocados. “A ocasião faz o ladrão”, diz um provérbio. Pode-se dizer no mesmo sentido que: “A ocasião faz o santo”.

Quereis praticar a virtude? Evite as ocasiões de pecar e procurai um meio favorável! Há sem duvida almas heroicas que souberam santificar-se no meio dos perigos, como há almas indolentes que se perdem nos lugares mais santos (Ef. 4, 27). Estas exceções, porém, não fazem senão confirmar a regra dada pelo Espirito Santo: “Aquele que ama o perigo, nele perecerá… (Sb. 3, 27).

Ó meu bom Jesus, não será esta a causa de meu pouco progresso? … Eu rezo, luto e não adianto, porque esqueço de vigiar sobre mim, sobre meu coração, sobre meus pensamentos, sobre minha imaginação, sobre as ocasiões de cometer as faltas, e, apesar de minhas promessas diariamente renovadas, eu recaio sempre nas mesmas faltas.

Ó Mãe querida, esclarecei-me e fazei-me compreender a recomendação de Jesus de vigiar e de orar!

(Fonte: in Contemplações Evangélicas Doutrinais e Morais sobre a Paixão de N. S. Jesus Cristo para Uso das Almas Sacerdotais e Religiosas, Pe. Júlio Maria, 2º Tomo, A Subida do Calvário, Editora Vozes, 1936, 30ª Contemplação, pp. 121-126, em formato PDF obtido do blog Alexandria Católica – Texto revisto e atualizado bem como suprimimos as citações em latim, apenas indicamos a passagem das Escrituras)

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