Mariologia

21 DE NOVEMBRO –FESTA DA APRESENTAÇÃO DE MARIA NO TEMPLO

21 DE NOVEMBRO – FESTA DA APRESENTAÇÃO DE MARIA NO TEMPLO

Ó Maria, apresentai vós a minha oferta e a minha vida ao Senhor.

1 – Ainda que a Sagrada Escritura nada nos diga acerca da apresentação de Maria Santíssima no templo, este fato baseia-se no autorizado testemunho da mais antiga tradição cristã e a Igreja o reconheceu oficialmente tornando-o objeto de uma particular festa mariana.

A Virgem Menina que, na mais tenra idade, abandona a casa e os pais para ir viver à sombra do templo, fala-nos de desprendimento, de separação do mundo, de entrega completa ao serviço de Deus; fala-nos

de consagração virginal :ao Altíssimo. Depois d’Ela, inumeráveis almas virgens se apresentarão no templo para se oferecerem a Deus, mas nenhuma oferta será tão pura, tão total e tão aceite como a de Maria. A Virgem é verdadeiramente a privilegiada entre todas as criaturas, Ela que desde os primeiros instantes da sua existência ouviu o grande apelo: «Escuta, ó filha, e vê, e inclina o teu ouvido e esquece-te do teu povo e da casa de teu pai» (Sal. 44, 11). O Altíssimo enamorou-Se da sua beleza e a quis toda para Si; Maria responde e a sua resposta é pronta e completa. Semelhante à da Virgem deve ser a resposta das almas que Deus chama ao altar, à vida religiosa ou à consagração virginal no mundo. Também estas almas devem separar-se do mundo, abandonar parentes e amigos, desprender-se do seu povo e da sua casa; nem sempre a separação poderá ser material, mas deve ser sempre uma separação espiritual, isto é, do afeto. É o coração que se deve desapegar, que se deve isolar, porque os eleitos do Senhor jã não podem de maneira nenhuma pertencer ao mundo: «porque não são do mundo» (Jo. 17, 14), dizia Jesus.

Viver no mundo sem ser do mundo não é coisa fácil, mas absolutamente necessária para responder ao chamamento divino. Há almas virgens que falham na sua vocação de «consagradas» ou não lhe correspondem plenamente, porque ainda estão presas ao mundo, às suas máximas, às suas vaidades, aos seus caprichos, às suas comodidades, porque não tiveram coragem para realizar uma verdadeira separação ou porque, depois de a terem iniciado, não permaneceram fiéis. Isto pode suceder não só às almas que vivem no mundo, mas também àquelas que vivem no claustro, pois o mundo penetra em toda a parte, e em toda a parte pode invadir os corações não inteiramente desprendidos.

2 – À separação total corresponde à oferta, à consagração total. Maria dá-se toda ao seu seus, dá-se sem reserva, dá-se a Ele para sempre. «Senhor, na simplicidade do meu coração, ofereço-me hoje a Vós, como serva perpétua, para obséquio e sacrifício de eterno louvor» (lmit. IV, 9, 1). Tais deveriam ser as disposições com que a santa Menina se ofereceu ao Altíssimo, disposições que foram vividas com uma plenitude e uma coerência que desconcerta a nossa miséria. Nem sequer por um instante Maria faltou à sua consagração total; Deus pôde fazer d’Ela tudo quanto quis sem nunca encontrar a mínima resistência. Circunstâncias particularmente difíceis e penosas encheram a vida da Virgem: a dúvida de José sobre a origem da sua maternidade, a viagem a Belém numas condições tão delicadas e incômodas, a mísera pobreza em que viu nascer o seu Menino, a fuga para o Egito, a vida cheia de dificuldades em Nazaré, a hostilidade e a maldade dos fariseus contra Jesus, a traição de Judas, a ingratidão de um povo tão beneficiado e amado, a condenação do Filho à morte, o caminho do Calvário, a crucifixão no meio dos insultos da populaça. Em vão perscrutaremos o coração de Maria para descobrir nele um só movimento de ressentimento ou de protesto, em vão procuraremos ouvir uma única palavra de queixa em seus lábios; Maria entregou-se totalmente a Deus e deixa que Deus exerça sobre Ela todos os seus direitos de Soberano, de Senhor, de Dono; nada tem que objetar, nem se admira de que a sua imolação deva chegar a tanto.

Não se ofereceu porventura sem reserva? E agora que a sua oferta está consumada, não faz senão repetir: «Fiat! Ecce ancilla Domini!» Quão diferente é a nossa vida de almas consagradas! Com que facilidade retomamos o dom feito a Deus! Apoderamo-nos de novo do coração quando o deixamos ocupar pelos afetos humanos; retomamos a vontade, quando não sabemos sujeitar-nos a determinadas ordens que nos mortificam ou contrariam, quando não sabemos aceitar as coisas que nos custam, quando nos lamentamos, protestamos ou defendemos os nossos direitos. Porém, o único verdadeiro direito da alma consagrada a Deus é o de se deixar empregar e consumir totalmente pela Sua glória.

Peçamos a Maria apresentada no templo que tome em suas mãos maternais a nossa pobre oferta, que a purifique e complete com a sua, tão pura e perfeita, que a inclua e esconda na sua, tão grande e generosa, a fim de que, assim purificada e renovada, possa ser agradável a Deus.

Colóquio «Ó dileta de Deus, Maria amabilíssima, pudesse eu oferecer-vos hoje os primeiros anos da minha vida para me consagrar todo ao vosso serviço, minha santa e dulcíssima Senhora, tal como vós vos apresentastes no templo e vos consagrastes à glória e ao amor do vosso Deus! Porém não chego a tempo, depois de ter perdido tantos anos em servir o mundo e os meus caprichos, ·quase esquecido de vós e de Deus. Infeliz tempo em que não vos amei! Contudo, mais vale começar tarde do que nunca. Eis, ó Maria, que hoje me apresento a vós e todo me ofereço ao vosso serviço para o pouco ou muito tempo que me resta de vida sobre a terra; como vós; renuncio a todas as criaturas e dedico-me totalmente ao amor do meu Criador. Consagro-vos, ó Rainha, a minha mente a fim de que sempre pense no amor que mereceis, a minha língua .para ·que vos louve, o meu coração para que vos ame. Aceitai, ó Virgem Santíssima, a oferenda que vos apresenta este miserável pecador; aceitai-a, vo-lo suplico, por aquela consolação que o vosso coração sentiu quando no templo vos entregastes a Deus. E se tarde me ponho ao Vosso serviço, procurarei recuperar o tempo perdido redobrando as minhas homenagens ·e o meu amor.

«Ó Mãe de misericórdia, ajudai, com a vossa poderosa intercessão, a minha fraqueza e obtende-me do vosso Jesus perseverança e força .para vos ser fiel até à morte; e fazei que, depois de vos servir sempre nesta vida, possa chegar a louvar-vos eternamente no céu» (Sto Afonso).

FONTE: livro Intimidade Divina Meditações Sobre a Vida Interior para Todos os Dias do Ano, Pe. Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD, Edições Carmelitanas, Porto-Portugal, 2ª edição/1967, Festas Fixas, pp. 1494-1498 – Texto revisto e atualizado.

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