Mariologia

O ROSÁRIO NOS TORNA FILHOS QUERIDOS DE MARIA

O ROSÁRIO NOS TORNA FILHOS QUERIDOS DE MARIA

Rainha do Santo Rosário (imagem: blog Restauração Católica)

Todas as almas em estado de graça são filhas de Maria, porém, com especialidade aquelas que, por meio do santo Rosário, aprendem a conhecei-a melhor, compartilham mais vivamente de seus sofrimentos, tornando-se dignas, pela pratica de todas as virtudes, de participar um dia de suas glórias.

1. Nos Mistérios gozosos adquirimos a mais íntima convicção de que Maria é verdadeiramente a mãe de nossas almas e a mais perfeita das mães. Que vemos, com efeito, no mistério da Encarnação? É contra sua vontade que Maria foi feita Mãe de Deus? Não, o Senhor pede e espera o seu consentimento; e por quê? Porque a Virgem Imaculada deve tomar uma parte ativa e real, e não puramente nominal, em nossa restauração espiritual; em outros termos, ela deve tornar-se nossa mãe, não somente em nome, mas na realidade. Santa Gertrudes viu, um dia, durante a santa Missa, a Santíssima Virgem aproximar-se dela com o rosto cheio de majestade e ternura. Nesse momento cantavam-se as palavras do Evangelho que referem ter Maria dado à luz o seu Filho primogênito. A Santa pensou consigo mesma que o Evangelho teria acertado melhor dizendo «Filho único», em vez de «Filho primogênito».

Mas a divina Mãe respondeu ao seu pensamento dizendo-lhe: «Não, Jesus não é Filho único, é Filho primogênito, visto que depois dele eu vos gerei a todos espiritualmente, dando-vos a vida da alma, e desde então vos tornastes filhos, irmãos de Jesus e seus membros vivos.»

Maria é pois a verdadeira mãe de nossas almas; e que mãe, ó meu Deus! Haverá uma em todo o universo que com ela se possa comparar? Maria, não contente de dar a vida às almas, dá-lhes também o seu alimento, pois ela dá o Senhor ao mundo em Belém, palavra que significa «Casa do pão», e o depõe em uma manjedoura, onde comem os animais, Aquele que deve tornar-se um dia o nosso Pão da vida, o alimento da nossa imortalidade. O Pão eucarístico é pois um presente de Maria! Que mãe ofereceu algum dia a seus filhos um alimento tão precioso, tão substancial, tão capaz de enobrecer as inteligências e divinizar os corações?

Ó verdadeira Mãe de nossas almas! Vós compreendestes a imensidade de nossas necessidades e, como este alimento divino devia passar antes pelo fogo do sofrimento, fostes oferecê-lo no templo ao Pai Eterno, como a vítima de nossa salvação. E quando esta doce Vítima quis subtrair-se à vossa solicitude, vós a procurastes durante três dias, conservando assim para nós, vossos filhos adotivos, Aquele que deve assegurar a nossa felicidade. Não, não ha no céu nem sobre a terra mãe tão santa, tão boa, tão perfeita como vós.

2. Os Mistérios dolorosos nos ensinam melhor ainda, quão verdadeiramente Maria é a mãe de nossas almas. Santa Matilde lia um dia as palavras de Jesus na cruz á bem-aventurada Virgem e a São João: «Eis aqui vosso filho – Eis aqui vossa mãe.» Ela sentiu-se inspirada para pedir ao Salvador a mesma graça concedida ao discípulo bem amado. «Meu Redentor», disse ela a Jesus, «repetirá vossa santa mãe, em meu favor, as palavras que lhe dirigistes em favor de São João; dizei-lhe: Eis aqui vossa filha.» E imediatamente teve a felicidade de ouvir Jesus recomendá-la especialmente ao amor e aos cuidados de sua divina Mãe. «Derramei meu sangue para resgatar sua alma», dizia o Salvador a Maria, mostrando-lhe a bem-aventurada Matilde, «padeci e morri por seu amor: ela é toda minha, e eu vo-la dou por filha.» Matilde, transportada de alegria e cheia de confiança, foi mais longe ainda … pediu a seu bom Mestre que concedesse o mesmo favor a todos aqueles que o pedissem com fé viva; e Jesus dignou-se responder-lhe: «Nunca recusarei esta graça a quem quer que ma peça com fervor.»

Reclamemos também este privilégio, especialmente quando meditarmos os mistérios da Paixão, nos quais vemos Maria gerar-nos para a graça fazendo-nos participar dos tormentos de Jesus. Devemos dizer então: «Oh, como ela nos ama. Por nós suporta a mais cruel agonia em união com seu divino Filho agonizante no Jardim das Oliveiras; seu coração recebe os golpes que fazem cair em pedaços a carne de Jesus, e sofre as picadas dos espinhos que penetram em sua sagrada cabeça; leva espiritualmente consigo a cruz que pesa sobre os ombros de seu amado Filho; e não há feridas e chagas feitas nele sobre o Calvário que não firam profundamente a sua terna e divina Mãe.»

Como sinal de gratidão, enxuguemos cada dia as lagrimas d’Aquela que nos deu a vida da graça e no-la conserva por suas orações: enxuguemos suas lágrimas, principalmente, saudando-a cinquenta e três vezes com o anjo, enquanto meditamos os mistérios da Paixão.

3. Por este meio mereceremos compartilhar um dia de sua glória, imitando o seu procedimento. São Bernardo ainda criança muito pequena saltava de alegria ao ouvir pronunciar o nome de Maria ou ao estar em presença de sua imagem. Queria alguém corrigi-lo de um defeito? Bastava dizer-lhe: «Isto desagrada à Santíssima Virgem.» Para o levar a praticar uma virtude, a fazer uma boa obra: «Isto», diziam-lhe, «é agradável ao coração de Maria.» Bastava; o jovem Bernardo fazia o que lhe pediam pelo nome de sua celeste mãe.

Queiramos ser dignos filhos de uma mãe tão santa; não nos contentemos só em conhecei-a, em orar, compadecendo-nos de seus sofrimentos; imitemos ainda as suas virtudes a fim de alcançarmos um dia a com participação de sua glória. Que desgraça para nós se, depois de termos conhecido suas inefáveis ternuras, ficassem os privados delas durante a eternidade e isto por culpável covardia, que ordinariamente conduz ao esquecimento dos deveres mais essenciais para com Jesus e Maria. Para prevenir semelhante infidelidade nada há mais seguro do que apurarmo-nos cada vez mais na devoção a Maria, consistindo esta na imitação de sua vida.

Achamos um meio infalível na recitação do Rosário, onde cada mistério nos instrui sobre nossas obrigações; na humildade, caridade, desapego de si e em tudo que conduz á mais alta perfeição. Se assim fizermos, teremos uma feliz morte, que é o privilegio dos filhos de Maria e que os faz tomar parte no triunfo de sua augusta Mãe.

O bem-aventurado Afonso Salmeron, uma das grandes luzes do Concílio de Trento, e que tinha recusado as primeiras dignidades da Igreja, gloriava-se de ser filho da Rainha dos Anjos. Pregara muitas vezes que a Santíssima Virgem assiste na morte aos seus fiéis servos, como assistiu ao último suspiro de Jesus. Ele próprio teve a doce experiência do que havia assegurado aos outros, pois mereceu ver junto de seu leito de morte a divina Mãe, que vinha fortificá-lo e consolá-lo. Expirou exclamando: «Ao paraíso, ao paraíso! Bendito seja o tempo em que vos servi, ó Maria! Abençoadas as prédicas, as fadigas, bendito tudo quanto fiz e sofri por vós, ó minha Mãe!» Ao paraíso! Assim morrem os filhos de Maria, que consideram como um de seus primeiros deveres, honrai-a, invocai-a, praticando suas virtudes por meio do Rosário. Ó minha Soberana e minha Mãe! Já que Jesus se dignou recomendar-me a vós na pessoa do discípulo bem amado, aceitai-me por vosso filho e gravai profundamente o meu nome em vosso maternal coração, afinal de que nunca vos esqueçais de mim. De minha parte vos prometo ser eternamente fiel; porém, o que posso eu sem vosso socorro? Dai-me essa fidelidade que me falta e que espero de vossa bondade, mais do que de minha fraqueza e inconstância!

Ensinai-me a meditar as vossas virtudes recitando o Terço, afim de que, vendo a vossa pureza e santidade, eu me envergonhe dos meus defeitos e vícios, e procure tornar-me quanto antes um filho menos indigno de uma tão santa Mãe.

(Fonte: in Trinta e Uma Meditações sobre as Excellencias do Santo Rosario, pelo Pe. Luiz Bronchain, Redentorista, Friburgo em Brisgau [Alemanha] B. Herder Livreiro-Editor Pontifício, 1912, pp. 54-62, obtido do blog Alexandria Católica – Texto revisto e atualizado com alguns destaques acrescidos)

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